sexta-feira, 30 de abril de 2021

Invenção da pólvora

 

A pólvora foi decoberta pelos chineses por volta do ano 900 como uma mistura de nitrato de potássio, carvão vegetal e enxofre. A pólvora é mencionada pelo alquimista Zhao Naian da dinastia Tang em 808.[1] Frances Gies mostra que os chineses não se limitaram ao uso como fogos de artifício e logo fizeram uso militar da invenção. Entre os árabes Elmaciano em História Sarracênica informa eu em 690 Hagiageo tendo cercado Meca usou “morteiros (manganês et mortariis) sacudidos por meio de nafta e fogo” o que sugere o uso de pólvora. A invenção da pólvora foi transmitida aos espanhóis através dos árabes.[2] A primeira receita chinesa data de 1044 por Ching Tsao Yao. Por volta de 1200 a fórmula chegou a Arábia nos escritos de Abd Allah com a primeira arma operacional em 1304[3]. Em 1241 os mongois que invadiram a Hungria e Polônia usavam pólvora.[4] Hasan al Rammah no século XIII elaborou um catálogo de receitas de pólvora em seu Livro de equitação militar e engenhosos aparelhos de guerra.[5] A invenção chegou à Europa no século XIII numa obra de Abu Baitar que a denomina “neve chinesa”. As primeiras “bengalas de fogo” foram utilizadas em Perugia em 1364 e em Augsburgo em 1381[6]. Ducange é o primeiro a citar o uso da pólvora na França em 1338 como um recurso bastante comum nas guerras. Petrarca em Remeddie de varia fortuna de 1344 corrobora esta opinião[7]. Marcos o grego no Liiber Ignium no século XIII descreve a mistura de carvão e enxofre na proporção de um para dois.[8] O monge Bertoldo Schwartz no monastério de Freiburg segundo o livro Fireworks Book de 1410 faz seus experimentos com pólvora diante dos colegas que aterrorizados reconhecem a presença do demônio nas explosões[9]. Por volta do século XV embora os ingredientes estivessem determinados não havia ainda sido estabelecida a correta proporção dos componentes para que a pólvora fosse um eficiente explosivo, o que somente viria a ocorrer com o desenvolvimento da química moderna[10].

O monge Roger Bacon fez experiência com a pólvora na Inglaterra. Em um de seus registros anotou: “Deixa que o peso total seja trinta, mas de salitre tomem-se sete partes, cinco de carvão de lenha novo, e cinco de enxofre e chamarás o trovão e a destruição quando conheceres a arte”.[11] Segundo Roger Bacon: ‘Se, tomando uma polegada dessa substância, se produz mais claridade e estrondo do que um raio, o que seria se soubessem empregar em quantidade a matéria conveniente ? “.[12] Seu uso em artilharia na Europa foi empregado por Alfonso XI de Castilha na batalha de Algeciras no século XIV.[13] Roger Bacon escreveu sobre a pólvora por volta de 1260, provavelmente com base em informações de povos nômades sarracenos, alguns anos antes da viagem de Marco Polo à China (1271-1275) com histórias sobre a descoberta dos chineses. Marco Polo escreveu seu livro As viagens de Marco Polo durante em seu cativeiro em Gênova em 1296, numa obra minuciosa como nenhuma outra até então havia sido escrita sobre a Ásia na Europa. Portanto Roger Bacon não escreveu com base nas informações de Marco Polo. Jacob d’Ancona também que também viajou para China (1270-1273) se refere à pólvora pelos chineses: “os alquimistas de Manci (sul da China) fizeram, por experiência, muitas máquinas, embora lhes falte a vontade de lutar, das quais eles chamam de raio que abala o ceu, pois, usando um pó mágico que explode (magico polve che scoppia) e que eles põem num tubo de ferro ou cobre, lançam um fogo rápido e voador a grande distância, e para grande dano do inimigo [...] Quando dão banquetes, é costume deles encher varas de bambu, com seu pó explosivo, ao qual ateiam fogo e se alegram com as faíscas de luz”. [14]

[1] IANNACCONE, Isaia. Ciência e técnica na China. In: ECO, Umberto. Idade média: bárbaros, cristãos e muçulmanos, v.I, Portugal:Dom Quixote, 2010, p.480; GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 95

[2] CHAGAS, Manuel Pinheiro. História de Portugal, Lisboa, v.2, p.354

[3] LEWIS, Brenda. Great civilizations, Parragon:London, 1999, p.84

[4] HOGBEN, Lancelot. Las matemáticas al alcance de todos. Joaquín Gil: Buenos Aires, 1943, p. 484

[5] MOSLEY, Michael.Uma história da ciência. Rio de Janeiro:Zahar, 2011, p. 60

[6] DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.185

[7] CHAGAS, Manuel Pinheiro. História de Portugal, Lisboa, v.2, p.354

[8] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 333

[9] CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 335

[10] PHILBIN, Tom. As 100 maiores invenções da história, Rio de Janeiro:DIFEL, 2006, p.38

[11] Uma breve história das descobertas: da antiguidade ao século XX, São Paulo:Escala, 2012, p. 35; CHILDRESS, David Hatcher. A incrível tecnologia dos antigos, São Paulo:Aleph, 2005, p. 155

[12] CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 3774

[13] BONILLA, Luis. Breve historia de la técnica y del trabajo, Madrid:Ed. Istmo,1975, p.159

[14] SELBOURNE, David. Cidade da luz, Rio de Janeiro:Imago, 2001, p. 296



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