Antonil descreve os escravos: “entre os congos há alguns bastante industriosos e bons não somente para
o serviço da cana, mas para as oficinas e para o meneio da casa. Melhores ainda
são, para qualquer ofício, os mulatos”.[1] Antonil
destaca que os negros de Luanda eram habilidosos e desejosos de ter uma
profissão. No Serro Frio o negro livre Bernardo de Almeida trabalhava com
tecidos e ao morrer tinham patrimônio avaliado em 8 mil cruzados.[2] No século XVIII o mestre Aleijadinho com o
agravamento de sua doença precisou do auxílio de escravos entre os quais
Agostinho que executava as funções de entalhador. [3] Na seção
de Avisos de jornais como Gazeta do Rio ou A idade do Ouro no Brasil anunciava-se
a venda de escravos “que tinham alguma
coisa de sapateiro”[4], ou
então: “quem quiser comprar um negro de
Angola, sapateiro, que corta e faz sapatos para senhora e também para homem,
dirija-se ao recolhimento da Misericordia e fale com D. Luiza” (Gazeta do
Rio, 1814, edição 13), “quem tiver um
negro ferreir, e o quiser vender, fale na loja da gazeta, que se lhe dirá quem
o quer comprar” (Gazeta do Rio, 1809, edição 65). Um censo de libertos
realizado em Santana na Bahia em 1849 mostra que entre os escravos libertos
apenas 18% tinham ocupações mais especializadas como carpina ("Carpina"
tem origem no tupi karapina, uma variedade de pica-pau. O termo passou a ser
aplicado também ao ofício de carpinteiro, por ambos trabalharem a madeira),
pedreiro, sapateiro, alfaiate, que em geral remuneravam melhor em média quase o
dobro de barbeiro, roceiro, acendedor de lampiões ou carregador de cadeira por
exemplo.[5] Alguns
destes libertos possuíam escravos como mostrou Inês de Oliveira que observou
que numa amostra de 492 de libertos (1790-1890) na Bahia que deixaram
testamento, possivelmente os mais abastados, cerca de 63% possuíam escravos.[6] No censo
de Santana de 1849 entre os libertos foram registrados 22% com escravos, a
grande maioria trabalhava com o auxílio de seu único escravo. A nagô Veridiana
Maria de Lima vivia da renda proporcionada pelos seus oito escravos. Um dos participantes
da revolta dos Malês em 1835 Luís Xavier é apontado como tendo oito escravos.[7] Segundo
Inês de Oliveira “os ganhadores [escravos de ganho] gozavam de uma liberdade
de movimentos muito mais ampla do que os escravos domésticos, submetidos à
vigilância contínua direta dos senhores. Organizavam-se em grupos, os cantos,
situados em locais previamente determinados pela municipalidade e geralmente
com predominância de um grupo étnico”.[8] O
escravo Joaquim Pinto de Oliveira conhecido pelo nome Tebas era mestre pedreiro
especializado nos trabalhos em cantaria e arquitetura tendo realizado entre
outras obras a fachada da antiga igreja do Mosteiro de São Bento e a construção
do Chafariz da Misericórdia, o primeiro chafariz público da capital paulista, as
partes frontais da igreja da Ordem Terceira do Carmo e da igreja das Chagas do
Seráfico Pai São Francisco. Segundo José Jacyntho Ribeiro (Cronologia Paulista)
Tebas era escravo de um cônego, pelo qual fora deixado livre, em testamento com
a condição de concluir a obra da Sé Catedral de São Paulo [9].
[1] GOMES, Laurentino.
Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.232
[2] PRIORE, Mary del.
Histórias da gente brasileira, v.1 Colônia.Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 102
[3] BRAGA, Angela. O
Aleijadino. São Paulo:Moderna, 1999, p. 29
[4] PRIORE, Mary del.
Histórias da gente brasileira, v.1 Colônia.Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 168
[5] REIS, João José.
Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo:
Cia das Letras, 2012, p. 369
[6] REIS, João José.
Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo:
Cia das Letras, 2012, p. 267
[7] REIS, João José.
Rebelião escrava no Brasil: a história do levante dos malês em 1835, São Paulo:
Cia das Letras, 2012, p. 488
[8] OLIVEIRA, Maria Inês
Cortês. O liberto o seu mundo e os outros Salvador 1790-1890, Tese Mestrado
Ciências Sociais, UFBA, 1979, p.57
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