José Valladares [1] mostra a
confusão terminológica nos textos do Brasil colonial entre confrarias e
corporações. Um carpinteiro poderia se filiar a Irmandade de São José e também
a outras Irmandades como a de Nossa Senhora do Rosário dos Pretos ou à
Irmandade de Nossa Senhora do Livramento. Nos registros de entrada de seus
associados encontram-se homens, mulheres, brancos, negros e mestiços, livres,
escravos ou forros. Mesmo aqueles que não exerciam os quatro ofícios eram
admitidos em seus quadros. Para praticar a profissão de ourives era preciso uma
declaração de “sangue limpo”. [2] Charles
Boxer observa que tanto nos documentos oficiais portugueses como na
correspondência privada até o século XVIII era muito comum a referência “pureza
de sangue” e a “raças infectas”, no entanto, Edgar Prestage observa
em estudo publicado em 1923: “É motivo de consideração o fato de Portugal, à
exceção dos escravos e dos judeus, não fazer qualquer distinção de raça ou cor
e todos os seus súditos, logo que convertidos ao catolicismo, serem elegíveis
para postos oficiais”.[3] Russel
Wood mostra que em seu conceito do Portugal do século XV a pureza de sangue se
referia á pureza religiosa, “não corrompido” por uma ascendência judaica ou
moura. No Brasil colônia o conceito foi expandido para incluir pessoas de descendência
africana. Mesmo Portugal na época tendo muitos escravos, esse conceito era desconhecido
na metrópole: “a questão racial não constituía uma grande preocupação no
Portugal do século XV, nem havia se estabelecido uma conexão entre negros e
escravidão”.[4] Os estatutos da Ordem Terceira de Mariana em Minas Gerais estipulava em 1723
que qualquer indivíduo que quisesse entrar na Ordem “deveria ser de
nascimento branco legítimo, sem qualquer boato ou insinuação de sangue judeu,
mourisco ou mulato, ou de Carijó ou de qualquer outra raça contaminada”.[5] Em 1749
um candidato à Ordem Terceira de São Francisco na Bahia (na figura) garantiu diante de
cinco testemunhas “que era de indubitável brancura e inquestionavelmente um
cristão velho, puro de sangue sem sangue de judeu, mouro, mourisco, mulato ou
qualquer outra nação infectada daqueles proibidos por nossa Sagrada Fé Católica”.[6] A Ordem
dos Carmelitas descalços de Santa Teresa criada em 1686 em Olinda não admitia
qualquer noviço nascido no Brasil por mais “puro” que fosse seu sangue.[7] Charles Boxer mostra com Pombal disseminam-se
as medidas antirracistas de modo que, por exemplo, na Casa de Misericórdia da
Bahia os preconceitos contra origem cristã nova enfraqueceram-se
consideravelmente ente 1730 e 1774. [8]
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