É inegável a contribuição dos portugueses no conhecimento baseado no experimentalismo e a compilação dos conhecimentos em navegação e cartografia numa época em que tais registros estavam impregnados de registros fantasiosos. Segundo Luis Albuquerque: “os dois métodos astronômicos para determinação da latitude baseado no cálculo das alturas meridiana de uma estrela ou do Sol provinham direta ou indiretamente de obras que serviram de instrução os astrólogos dos séculos IX e XIII [...] No entanto o fato das navegações terem, por um lado imposto uma revisão ou uma simplificação de tais processos mostra por outro lado a utilização prática de noções que durante séculos apenas se utilizavam das práticas secretas da astrologia é já uma razão para explicar como a náutica astronômica pôde ser, como na verdade foi, um fator de progresso para a astronomia de posição [...] Não é menos importante salientar que a prática de uma navegação astronômica, bem como a necessidade de serem observadas as condições físicas da atmosfera e dos mares ajudou a criar um clima propício para o surto de um experimentalismo que veio a dar no concurso do século XVI alguns dos frutos mais sazonados da ciência portuguesa”. Luís de Albuquerque mostra que não há qualquer evidência do uso de navegação astronômica no Mediterrâneo no século XIV, este foi um aperfeiçoamento dos navegadores portugueses[1] como se observa no Livro de Marinharia de João de Castro de 1516.[2] Luis de Albuquerque cita como exemplos desse experimentalismo as observações de João de Castro sobre a interferência de peças de artilharia metálica na deflexão de uma bússola e a técnica de se lançar fardos de palha nas águas da foz de um rio para se reconhecer a orientação das correntes marinhas.[3] Para Duarte Pacheco a experiência era considerada a “madre de todas as coisas”. Na avaliação de Luís de Albuquerque: “Pode ser objetado que não se encontra nesta valorização da astronomia como ciência que estamos assinalando qualquer inovação verdadeiramente revolucionária. E não houve de fato, porque os pilotos, voltados para uma prática direta, se consideravam satisfeitos uma vez resolvidas as principais dificuldades que se lhes estorvavam a missão, tendo para tanto sido suficiente aproveitar do melhor modo os conhecimentos tradicionais. Todavia, não deixaram de surgir algumas notas de originalidade, sobretudo de devido a Pedro Nunes quando analisou de um ponto de vista teórico muitas das dificuldades que persistiam ainda na marinharia do seu tempo. Por outro lado, é necessário não esquecer que se no quadro os dados reunidos não se encontra qualquer nota de profunda novidade, também nenhuma falta nela se revela quanto ao era essencialmente necessário para o apetrechamento técnico de quem se punha a navegar sem limites nos três grandes oceanos que cingiam as terras dos quatro continentes”.[4]
[1]ALBUQUERQUE,
Luis. Introdução a história das descobertas portuguesas, Lisboa:Europa América,
1959, p. 51
[2] ALBUQUERQUE, Luís de. Introdução à história dos descobrimentos portugueses,
Lisboa: Europa América, 1959, p 264
[3] ALBUQUERQUE, Luis.
Introdução a história das descobertas portuguesas, Lisboa:Europa América, 1989,
p. 290
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