A cidade de Roma ocupava a plataforma da colina do Palatino que era chamada de “Roma quadrada” – Roma quadrata devido ao formato aproximadamente retangular de seu perímetro[1] era cercada por uma muralha. Segundo a lenda transmitida por Tito Lívio, os gêmeos Rômulo e Remo teriam sido amamentados por uma loba. Mary Beard se refere a possibilidade dessa tradição ter surgido do fato de que a palavra latina para loba é também usada para designar uma prostituta e desta forma bordel significa lupanar.[2] A estátua da loba guardada no Museu Capitolino teve grande difusão como símbolo da cidade especialmente após a propaganda nacionalista feita por Mussolini. Na lenda sobre a origem de Roma tal como transmitida por Tito Lívio, Tácito e Virgílio na Eneida, para decidirem onde construir uma nova cidade Rômulo subiu o monte Palatino e Remo o monte Aventine aguardando uma mensagem dos deuses. Remo viu seis urubus, símbolo sagrado para Apolo, enquanto Rômulo viu doze e assim ficou decidido construir a cidade sobre o Palatino.[3] Antes de Roma a cidade, segundo uma outra tradição, era conhecida como Septimontium em referência às sete colinas: Palatium e Cermalus que formam o Palatino, Velia, Fagutal, Subura, Oppius, Caelius e Cispius[4]. Rômulo em 753 a.c. traçou um sulco ao redor do Palatino demarcando o local sagrado para fundação da cidade, onde os sacerdotes poderiam praticar o augúrio e a leitura de vaticínios essencial na tomada de decisões, mas o local foi profanado por Remo[5] que pisoteou o desenho. Rômulo em vingança matou Remo e sentenciou: “Assim morrerá todo aquele que transpuser as minhas muralhas”.[6] Em 1907 foram encontrados no Germal, cume ocidental do Palatino, objetos datados do século VIII a.c.[7] Na mesma época Giacomo Boni encontrou restos de um santuário antigo próximo ao fórum que revelaria uma origema ainda mais remota para a cidade de Roma, embora a datação seja controversa.[8] Em 1985 Andrea Carandini e Albert Ammerman localizaram o fosso que outrora demarcava a parte externa da parede mais antiga deste limite [9]. Seguindo antiga tradição etrusca os romanos construíam suas cidades de modo a harmonizá-las com a ordem cósmica com o traçado de suas ruas principais: a cardo ou “dobradiça” que corria de norte para sul, e a decumannus que corria de leste para oeste [10] tendo como referência a trajetória do sol.[11] No ponto de intercessão localizava-se o capitólio ou “cabeça” da urbe, local sagrado com um templo dedicado a Júpiter, Juno e Minerva [12]. O escritor latino do século I a.c. Varrão afirma que o termo “templum é o nome que se dá a um lugar demarcado e limitado por determinadas fórmulas com o fim de fazer augúrios e receber auspícios” [13]. O termo “palácio” remonta a colina romana de Palatino onde ficava a residência suntuosa do imperador romano Augusto.[14]
[1] SANTOS, Yolanda
Lhullier. Convite à história, São Paulo:Logos, 1966, v. I, p. 211; ONCKEN,
Guilhermo. História Universal – História de Grécia e Roma, Francisco Alves:Rio
de Janeiro, v.IV, p.605
[2] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 61
[3] O’CONNEL, Mark, AIREY, Raje. Almanaque ilustrado dos símbolos. São
Paulo:Escala, 2010, p.18
[4] BEARD, Mary. SPQR: uma história
da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 81
[5] DEARY, Terry. Terríveis
romanos. São Paulo:Melhoramentos, 2002, p. 13
[6] VAINFAS, Ronaldo. História volume único, Rio de Janeiro: Saraiva, 2010, p. 58
[7]GIORDANI, Mario Curtis.
História de Roma, Rio de Janeiro:Vozes, 1981, p. 28
[8] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 88
[9] Time Life. Roma: ecos
da glória imperial, Rio de Janeiro:Abril, 1998, p. 15
[10] MUMFORD, Lewis. A
cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 229; FUNARI, Pedro.
Grécia e Roma, São Paulo:Contexto, 2004, p.110
[11] MENDES, Chico;
VERÍSSIMO, Chico; BITTAR, William. Arquitetura no brasil de Cabral a Dom João
VI, Rio de Janeiro;Imperial Novo Milênio, 2009, p. 12
[12] CARREIRA, Eduardo. O
pincel invisível do pintor: notas sobre o simbolismo iniciático nas artes
medievais. In: RIBEIRO, Maria Eurydice. A vida na idade média, Brasília:UNB,
1997, p. 78
[13] GONTIJO, Silvana. O
mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.74
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