terça-feira, 2 de março de 2021

Renascimento em Portugal e a nova ciência

 

Diogo do Couto em 1603 explica o fracasso em explorar novas rotas na India: “devido a tacanhez e falta de curiosidade desta nossa nação portuguesa [...] Isso não se passaria assim com estrangeiros, que são muito mais políticos e inteligentes que nós, não só em coisas importantes como esta, mas também em assuntos muito mais banais”.[1] Em 1670 o embaixador inglês em Lisboa, Francis Perry, observa que ”as pessoas são tão pouco curiosas que ninguém mais sabe do que o que é meramente necessário para si”. Para Wilson Martins “a cultura intelectual jesuítica era fundamentalmente medievalista e representava uma tentativa de prolongação do passado mais do que um esforço de integração simpática no presente e de antecipação favorável do futuro [...] quaisquer que sejam os méritos especificamente pedagógicos do ensino jesuítico, não há negar que era mentalmente conservador, reacionário com relação às orientações reformistas da época e anticientífico; estruturalmente, estava condenado por antecipação antes a imobilizar do que a promover o desenvolvimento intelectual do Brasil, simples prolongamento do que então ocorria em Portugal”[2], Era uma cultura anti renascimento: “em Portugal o Renascimento só se manifestou por espasmos”.[3] Charles Boxer depois de analisar o rígido controle de Portugal quanto a publicação de livros em suas diversas colônias conclui: “a imposição de um controle  tão rígido e tão eficaz sobre a publicação e circulação de livros, a força permanente da ortodoxia religiosa portuguesa (Portugal foi o único país  que aceitou sem quaisquer hesitações todas as decisões finais do concílio de Trento) e a índole naturalmente conservadora da grande maioria do povo, todos esses fatores ajudam a explicar a razão pelo qual o Renascimento  teve um florescimento relativamente tão breve em Portugal”.[4] Enquanto a Europa discutia as teses de Galileu, Bacon, Descartes, Newton, Huygens, Hobbes, Leibiniz e outros os jesuítas portugueses e espanhóis recusaram-se a difundi-las proibindo sua discussão. Em 1625, o padre Cristóvão Bruno, professor Colégio de Santo Antão, divulgava a teoria heliocêntrica, mas a refutava em vários pontos.[5] O Cursus Philosophicus (1651), do jesuíta Francisco Soares Lusitano se referia a circulação de Harvey, porém, de modo geral os inacianos mantiveram todo este saber restrito ao seu uso privado sem ministrar tal conteúdo nas aulas. Em 1746 o Reitor do Colégio das Artes de Coimbra, proíbe o ensino da ciência dos modernos, o que revela que já havia tentativas de quebra desse obscurantismo. Por sua vez Domingos Maurício Gomes dos Santos, João Pereira Gomes e Antônio Alberto Banha de Andrade argumentam que os jesuítas não apenas teriam sido conhecedores das teorias dos modernos (Copérnico, Descartes, Galileu, Gassendi e Newton), como até mesmo teriam lecionado largamente tais teorias em suas aulas, sendo exemplos de jesuítas anti escolásticos e com interesse na nova ciência dos padres Inácio Monteiro (1724-1812) e Teodoro de Almeida (1722-1804)(na figura).[6]



[1] BOXER, Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 323

[2]MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 16, 22

[3] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 17

[4]BOXER, Charles. O império Colonial português, Lisboa:Edições 70, 1969, p.331

[5] VILLALTA, Luiz Carlos. A Educação na Colônia e os Jesuítas: discutindo alguns mitos, PRADO, Maria Lígia Coelho; VIDAL, Diana Gonçalves. (Org.). À Margem dos 500 Anos: reflexões irreverentes. São Paulo: Edusp, 2002, p. 171-184 http://www.fafich.ufmg.br/pae/apoio/aeducacaonacoloniaeosjesuitasdiscutindoalgunsmitos.pdf

[6]MEDEIROS, Alexandre; MEDEIROS, Cleide. As origens do ensino da física em Portugal no século XVIII, Acta Scientiarum Maringá, v. 24, n. 6, p. 1697-1706, 2002



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