Diogo
do Couto em 1603 explica o fracasso em explorar novas rotas na India: “devido
a tacanhez e falta de curiosidade desta nossa nação portuguesa [...] Isso não
se passaria assim com estrangeiros, que são muito mais políticos e inteligentes
que nós, não só em coisas importantes como esta, mas também em assuntos muito
mais banais”.[1] Em
1670 o embaixador inglês em Lisboa, Francis Perry, observa que ”as pessoas
são tão pouco curiosas que ninguém mais sabe do que o que é meramente
necessário para si”. Para Wilson Martins “a cultura intelectual
jesuítica era fundamentalmente medievalista e representava uma tentativa de
prolongação do passado mais do que um esforço de integração simpática no
presente e de antecipação favorável do futuro [...] quaisquer que sejam os
méritos especificamente pedagógicos do ensino jesuítico, não há negar que era
mentalmente conservador, reacionário com relação às orientações reformistas da
época e anticientífico; estruturalmente, estava condenado por antecipação antes
a imobilizar do que a promover o desenvolvimento intelectual do Brasil, simples
prolongamento do que então ocorria em Portugal”[2],
Era uma cultura anti renascimento: “em Portugal o Renascimento só se
manifestou por espasmos”.[3] Charles Boxer depois de analisar o
rígido controle de Portugal quanto a publicação de livros em suas diversas colônias
conclui: “a imposição de um controle
tão rígido e tão eficaz sobre a publicação e circulação de livros, a
força permanente da ortodoxia religiosa portuguesa (Portugal foi o único país que aceitou sem quaisquer hesitações todas as
decisões finais do concílio de Trento) e a índole naturalmente conservadora da
grande maioria do povo, todos esses fatores ajudam a explicar a razão pelo qual
o Renascimento teve um florescimento
relativamente tão breve em Portugal”.[4] Enquanto a Europa discutia as teses de Galileu, Bacon, Descartes, Newton,
Huygens, Hobbes, Leibiniz e outros os jesuítas portugueses e espanhóis recusaram-se
a difundi-las proibindo sua discussão. Em 1625, o padre Cristóvão Bruno,
professor Colégio de Santo Antão, divulgava a teoria heliocêntrica, mas a
refutava em vários pontos.[5] O Cursus Philosophicus (1651), do jesuíta Francisco Soares Lusitano se
referia a circulação de Harvey, porém, de modo geral os inacianos mantiveram
todo este saber restrito ao seu uso privado sem ministrar tal conteúdo nas aulas.
Em 1746 o Reitor do Colégio das Artes de Coimbra, proíbe o ensino da ciência
dos modernos, o que revela que já havia tentativas de quebra desse obscurantismo.
Por sua vez Domingos Maurício Gomes dos Santos, João Pereira Gomes e Antônio
Alberto Banha de Andrade argumentam que os jesuítas não apenas teriam sido
conhecedores das teorias dos modernos (Copérnico, Descartes, Galileu, Gassendi e
Newton), como até mesmo teriam lecionado largamente tais teorias em suas aulas,
sendo exemplos de jesuítas anti escolásticos e com interesse na nova ciência dos
padres Inácio Monteiro (1724-1812) e Teodoro de Almeida (1722-1804)(na figura).[6]
[1] BOXER, Charles. O
império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 323
[2]MARTINS, Wilson.
História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p.
16, 22
[3] MARTINS, Wilson.
História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p.
17
[4]BOXER, Charles. O império Colonial português,
Lisboa:Edições 70, 1969, p.331
[5] VILLALTA, Luiz Carlos. A Educação na Colônia e os Jesuítas: discutindo alguns
mitos, PRADO, Maria Lígia Coelho; VIDAL, Diana Gonçalves. (Org.). À Margem dos 500
Anos: reflexões irreverentes. São Paulo: Edusp, 2002, p. 171-184 http://www.fafich.ufmg.br/pae/apoio/aeducacaonacoloniaeosjesuitasdiscutindoalgunsmitos.pdf
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