terça-feira, 16 de março de 2021

Renascimento carolíngio e o latim como língua franca

 

Carlos Magno promoveu um renascimento da arquitetura e literatura romanas, construindo o paláco Aquisgrano no estilo de Roma antiga.[1] Em Aachen Carlos Magno construiu a residência imperial, o que era destinada a ser “a segunda Roma”.[2] A capela palatina de Aix conforme o modelo da basílica imperial de São Vital de Ravena, ou a basílica Saint German de Auxerre são marcos da arquitetura carolíngia[3]. Nas iluminuras e nas encardenações de marfim a arte carolíngia alcançou seus maiores êxitos e das oficinas de Saint Denis, Tours, Metz, Hautvillers, Corbie e Aix La Chapelle saíram os artesãos que produziram obras primas tais como a Bíblia de São Paulo extra muros, o sacramentario de Drogon, o Saltério de Utrecht ou a Bíblia de Carlos o Calvo[4]. O renascimento carolíngio foi marcado pelo desenvolvimento de bibliotecas com as do mosteiro de Corbie e a de São Martinho de Tours sob a direção de Alcuíno.[5] Segundo um ditado do século XII: “um mosteiro sem biblioteca é como um castelo sem arsenal”.[6] Jacques Verger mostra que o renascimento carolíngio foi, antes de tudo, “uma revolução escolar”.[7] Outras realizações do renascimento carolíngio incluem a renovação da cultura escrita, consagrando o latim como língua oficial, a língua dos doutos[8], e a uniformização da escrita com o emprego da minúscula redonda usada nos documentos oficiais, bem como na valorização dos documentos antigos e preservação de textos de autores clássicos como Cícero e Virgílio.[9] Robert Delort destaca que o renascimento carolíngio foi ofuscado pelas invasões do século X, de modo que normandos, sarracenos e húngaros visam particularmente pilhar os ricos monastérios e queimar suas construções junto com seus manuscritos trabalhos de sábios como o monge Alcuíno de York [10], Rabanus Maurus ou Eginhard.[11] Frances Gies mostra que o renascimento carolíngio ocorre após um período de seis séculos desde que os romanos de desinteressaram pela ciência e filosofia gregas e assim com os clássico gregos o que levou ao latim se transformar na língua franca da classe intelectual medieval: “talvez o mais estranho hiato da história da cultura ocidental”.[12]

[1] CORNELL, Tim; MATHEWS, John. Renascimento v.I ,Grandes Impérios e Civilizações, Lisboa:Ed. Del Prado, 1997, p. 15

[2] DUBY, Georges. História artística da Europa: Idade Média, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 144

[3] PERROY, Edouard. A idade média, tomo III, Primeiro Volume, História Geral das Civillizações, São Paulo:Difusão Europeia, 1958, p. 144

[4] PERROY, Edouard. A idade média, tomo III, Primeiro Volume, História Geral das Civillizações, São Paulo:Difusão Europeia, 1958, p. 145; DUBY, Georges. História artística da Europa: Idade Média, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1997, p. 165

[5] NUNES, Ruy Afonso da Costa. História da educação na idade média, Campinas:Kirion, 2018, p.155

[6] MORTIMER, Ian. Séculos de transformações. Rio de Janeiro:DIFEL, 2018, p. 61

[7] VERGER, Jacques. Universidade. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 641

[8] FOSSIER, Robert. As pessoas da idade média, Rio de Janeiro: Vozes, 2018, p. 260

[9] MENDONÇA, Sonia. O mundo carolíngio. Coleção Tudo é história, n° 99, São Paulo:Brasiliense, 1985, p.83

[10] https://en.wikipedia.org/wiki/Alcuin

[11] DELORT, Robert. La vie au moyen age, Lausanne:Edita, 1982, p.220

[12] GIES, Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper Collins, 1994, p. 36



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