Buscando proteger a bússola de eventuais ataques supersticiosos
de marinheiros que acreditavam nos poderes de bruxaria do instrumento[1], os
comandantes foram levados a proteger a bússola em bitáculas, um cilindro de
madeira usando para acondicionar a bússola do navio. Segundo Kirkpatrick em
espanhol brújula deriva de uma mistura do italiano bussola e do murciano
brujeria (bruxaria).[2] Ainda no
tempo de Colombo um piloto que usasse a bússola poderia ser acusado de comércio
com satanás, embora ele próprio e navegadores experientes como Fernão de
Magalhães tivessem várias bússolas a bordo.[3] Colombo
teria inclusive percebido o fenômeno da declinação da agulha de marear anotando
o fenômeno nos diários da primeira e da terceira viagem na qual a posição do
Norte variava em função do meridiano em que se dava a observação, muito embora
Luís de Albuquerque conclua que se trata de fenômeno já conhecido de pilotos
portugueses.[4] No Tratado da agulha de marear de João de Lisboa é descrita uma relação
simples, embora equivocada, entre a declinação magnética e a latitude, o que
mostra a tentativa de extrair uma formulação científica a partir das observações
dos pilotos navegadores. O livro teve grande repercussão entre os pilotos
portugueses o que se explica pelo grande interesse dos cosmógrafos e pilotos em
encontrar um processo reprodutível para determinação no mar da longitude
baseado na declinação magnética da bússola. O cosmógrafo castelhano Alonso de Santa Cruz no Libro de las longitudes impresso no início
do século XVI se refere ao método de João de Lisboa embora não o cite
nominalmente. João Castro irá demonstrar a falta de consistência da relação
entre declinação magnética para cálculo de longitude, no entanto, Luís de
Albuquerque conclui: “a despeito destes valiosos resultados, que situam
castro como um verdadeiro experimentador, cumpre dizer que também na sua obra
encara várias vezes o magnetismo terrestre com claras limitações”.[5]
[1] BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.157
[2] AQUINO, Fernando,
Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo: Record, 2000,
p.81
[3] BOORSTIN, Daniel. Os
descobridores, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira, 1989, p.209
[4] ALBUQUERQUE, Luis. Ciência e experiência nos descobrimentos portugueses,
Lisboa: Biblioteca Breve, 1983, p.89
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