sábado, 27 de março de 2021

Profecia no Egito Antigo

 

Segundo Guilherme Oncken os sacerdotes egípcios dominavam a “linguagem dos deuses” estabelecendo uma separação completa entre o profano e o sagrado: “a consequência disto era o vulgo não saber o que significavam a ciência e a religião, que a tradição transmitira e cujas formas seguia com supersticiosa exatidão, ao passo que o sacerdócio se separava cada vez do povo e vivia num mundo quimérico, cujos fantásticos ideais não podiam nunca ser postos em prática”.[1] Byron Shafer mostra que o acesso às forças ocultas podia se dar por meio de sonhos alguns dos quais registrados em livros dos Sonhos como os de Hor de Sebannytos do século II a.c.[2] Hor de Sebannytos foi um profeta de grande prestigio por ter profetizado com sucesso ao imperador Ptolomeu VI a retirada dos selêucidas e seu imperador Antioco IV do Egito o que de fato veio a ocorrer apenas um mês após sua profecia.[3] A interpretação dos sonhos era uma prática importante uma parte de heka, ou magia, como praticada no Egito. A profecia de Neferti da época de Amenemhat I previu acontecimentos terríveis no final do Antigo Império.[4] Flavio Josefo em Contra Apion se refere a relato do historiador Manetho de que o faraó Amenophis (possvivelmente Amenophis IV 1364-1347 a.c.) desejava se trnar “observador dos deuses” e consultou um porfeto chamado Amenophis conhecido por sua habilidade de prever o futuro.[5] O templo de Amun, chamado Umm Ubayd, era o local do famoso oráculo no oásis de Siwa. Em 332 a.c. Alexandre o Grande foi saudado como faraó pelo oráculo quando visitou o oásis. O general de Esparta Lisandro, o poeta Píndaro e o geógrafo grego Strabo visitaram Siwa para assistir a cerimônias com os oráculos egípcios. A estátua do deus se movia em seu pedestal moveu ao responder as perguntas indicando uma resposta positiva ou negativa conforme o movimento. Em alguns centros de culto, as estátuas "falavam" aos fiéis, pois os sacerdotes podiam estar escondidos dentro do santuário e poderia fornecer uma resposta abafada, mas audível.[6] Nos festivais religiosos no Egito eram usados artifícios mecânicos de modo que as estátuas dos deuses pudessem fazer movimentos tais com virar os olhos ou movimentar as mãos e os pés.[7] Athanasius Kircher se refere a alguns destes engenhos mecânicos dos egípcios[8]. O Louvre guarda exemplo de uma estátua falante, uma cabeça de chacal cuja mandíbula inferior era móvel em que através de um barbante podia-se fechar sua boca.[9]

[1] ONCKEN, Guilherme. História Universal. História do Antigo Egito, v.I, Rio de Janeiro:Bertrand, p.304

[2] SHAFER, Byron. As religiões no Antigo Egito, São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 210

[3] BUNSON, Margaret. Encyclopedia of Ancient Egypt, New York:Facts on File, 2002, p. 171

[4] SHAFER, Byron. As religiões no Antigo Egito, São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 209

[5] LUCK, Georg. Arcana Mundi: magic and the occult in the Greek and roman worlds, Baltimore: Johns Hopkins University Press, 2006, p.8

[6] BUNSON, Margaret. Encyclopedia of Ancient Egypt, New York:Facts on File, 2002, p. 288

[7] JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 208

[8] YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 461, 464

[9] MONTET, Pierre. O Egito no tempo de Ramsés: a vida cotidiana, Sâo Paulo:Cia das Letras, 1989, p.294




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