O papel do positivismo na construção da ciência no país
tem sido destacado pela histografia mais recente a partir dos estudos de
autores como, por exemplo, de Roque Spencer de Barros e Ângela Alonso, uma vez
que tradicionalmente os autores tendiam a minimizar influência positivista
pelos seus aspectos religiosos o que o afastaria do ethos científico. Antonio Cândido destaca o período de 1870 como de
“renovação mental” e com a
intensificação dos estudos de ciências naturais: “parece-nos que semelhante movimento não estará sem correspondência, nem
é ocasionalmente que coincide com as primeiras tentativas da burguesia de tomar
a si a direção econômica e política da Nação”.[1] Para
Roque Spencer de Barros o Brasil no século XIX especialmente após 1870 com o
ocaso do império criou-se um movimento de ilustração de forma semelhante ao iluminismo
europeu do século XVIII: “a nossa
ilustração guardou a crença absoluta no poder das ideias, a confiança total na
ciência e a certeza de que a educação intelectual é o único caminho legítimo
para melhorar os homens, para dar-lhes inclusive um destino moral”. Nesse
sentido, o positivismo fornecia uma filosofia da história a servir como guia de
ação para esta intelectualidade.[2] João
Camilo de Oliveira Torres argumenta que o positivismo surgiu no Brasil para
preencher uma lacuna no campo das ideias e que ganhou espaço dentro nos cursos
de engenharia das escolas militares e escola Politécnica [3]. José
Murilo de Carvalho aponta que no Brasil o positivismo tinha uma tendência para
especulações filosóficas ao invés da pesquisa científica. Um exemplo da
influência negativa do positivo é o de um professor de eletricidade formado na
Politécnica do Rio de Janeiro que não acreditava em eletromagnetismo pois
segundo Comte não seria possível conhecer a estrutura as estrelas.[4] Luiz
Otávio Ferreira mostra que o positivismo está ligado ao ensino das engenharias civil
e militar no Brasil o que revela a historiografia destacou como um suposto
desprezo pelas “ciências desinteressadas”. Um artigo de Otto de Alencar de 1896
membro da Sociedade Positivista “Alguns erros matemáticos da Síntese
Subjetiva de Augusto Comte” denuncia limitações teóricas da matemática
comtiana. Em 1918 Amoroso Costa aprofunda a crítica de Otto de Alencar e
demonstra a esterilidade do conceito de ciência em Comte que teria atingido seu
ápice no século XVIII.[5]
[1] COSTA, Cruz.
Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização
Brasileira, 1967, p. 82
[2] BARROS, Roque Spencer.
A ilustração brasileira e a ideia de universidade, São Paulo:Ed. Convivio,
1986, p. 7-24
[3] TORRES, João Camilo. O
positivismo no Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, 2018, p.37
[4] CARVALHO,
José Murilo. A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, Rio de Janeiro:
Finep, 1978, p.77
[5] FERREIRA, Luiz Otávio. O ethos positivista e a institucionalização das ciências
no Brasil. Antropologia brasiliana, Ciência e educação na obra de Edgar
Roquette Pinto. Rio de Janeiro: Ficocruz, 2008
[6] MOURÃO, Ronaldo
Freitas. Dicionário Enciclopédico de astronomia e astronáutica, Rio de Janeiro:
Nova Fronteira, 1987, p. 737
[7] HAMBURGUER, Amélia
Império; DANTES, Maria Amélia; PETY, Michel; PETITJEAN, Patrick. A ciência nas
relações Brasil-França, São Paulo:USP, 1996, p.49-63
[8] FILGUEIRAS, Carlos.
Origens da química no Brasil, Campinas:Ed. Unicamp., 2015, p.396; COSTA, Cruz.
Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização
Brasileira, 1967, p. 187
[9] COSTA, Cruz.
Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização
Brasileira, 1967, p. 251
[10] TORRES, João Camilo. O
positivismo no Brasil, Brasília: Câmara dos Deputados, 2018, p.224
[11] ALONSO, Ângela. Idéias
em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil Império. São Paulo, Paz e
Terra, 2002
[12] COSTA, Cruz.
Contribuição à história das ideias no Brasil, Rio de Janeiro:Civilização
Brasileira, 1967, p. 128
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