domingo, 28 de março de 2021

A Escola de Minas de Ouro Preto

 

José Murilo de Carvalho mostra que as primeiras iniciativas da siderurgia no período colonial datam de Eschwege em Congonhas do campo em 1812, João Monlevade em Caeté em 1817, a fábrica de Ipanema de Varnhagen de 1810 e a de Gaspar Soares em Minas Gerais por Manuel da Câmara em 1808. Depois destes pioneiros seguiu-se um interregno de cerca de sete décadas até que fundação da Escola de Minas de Ouro Preto em 1876. José Murilo de Carvalho explica tal declínio pela decadência da atividade mineradora e ascensão do café. Paralelemente a estes fatores José Murilo de Carvalho, ao contrário de argumento defendido por Maria Odila[1], entende que houve também uma descontinuidade entre a ilustração brasileira ao final do primeiro reinado e a geração de 1870 sob influência do cientificismo positivista. Tal descontinuidade se reflete na ausência de produção cientifica neste período intermediário[2] A grande obra de geologia até a criação da Comissão Geológica do Império, ainda era o Pluto brasiliensis de Eschwege publicado em 1833. A Comissão Geológica do Império foi uma expedição realizada entre 1875 e 1878 sob coordenação do geólogo Charles Frederick Hartt, que percorreu o Nordeste e Norte coletando um vasto acervo geológico posteriormente incorporado ao Museu Nacional. Um dos geólogos da Comissão Oliver Derby declarou em 1883 que “os últimos dez ou quinze anos testemunharam um marcante despertar no Brasil da importância da pesquisa científica”.[3] A Escola de Minas de Ouro Preto foi patrocinada pelo imperador Pedro II que em visita a Academia de Ciências de Paris em 1875 contratou a vinda do mineralogista Claude Henri Gorceix que trabalhou até 1891 como seu primeiro diretor. Uma dos primeiros problemas enfrentados foi o próprio recrutamento dos alunos uma vez que apenas a Politécnica, Escola Militar e a Academia da Marinha tinha condições de  preparar os alunos para o concurso de admissão da Escola de Minas de Ouro Preto.[4] Em contraste com um ensino baseado no desenvolvimento das capacidades de memória e retórica Henri Gorceix tinha o foco na criatividade e pesquisa científica com intensos trabalhos práticos e de laboratório: “o tempo das discussões frívolas sobre palavras e teorias, simples especulações do espírito, legadas pela Idade Média, das quais há muito o velho mundo desembaraçou-se, já passou”. [5] Outra característica inovadora da Escola de Minas de Ouro Preto era o tempo integral dos professores e alunos em contraposição à reforma de Leôncio de Carvalho que previa a frequência livre. O positivismo teve mínima influência na Escola de Minas de Ouro Preto. Segundo José Murilo de Carvalho: “Dificilmente se poderia dizer que havia uma demanda efetiva por geólogos e engenheiros de minas na economia exportadora e escravocrata de 1876. A criação da Escola foi, antes de tudo, um ato de vontade política, orientado em boa parte por motivos de natureza antes ideológica do que econômica. Embora os efeitos deste voluntarismo tenham sido restringidos pelas limitações ao nível da economia, não há dúvida de que eles se fizeram sentir e tiveram um impacto no próprio desenvolvimento econômico e tecnológico do país”. [6] José Murilo de Carvalho mostra que as possibilidades de emprego dos formados eram reduzidas, sendo a maioria seguindo carreira no ensino. Até 1873 o governo tinha concedido apenas três patentes em mineração, um retrato da virtual inexistência da pesquisa tecnológica no setor. As maiores mineradoras eram inglesas que não contratavam engenheiros brasileiros. Uma exceção a esta regra foi a contratação pela Companhia de Morro Velho em 1884 de Francisco de Paula Oliveira, após a intervenção direta de Henri Gorceix.[7]

[1] ODILA, Maria. Aspectos da ilustração no Brasil, Revista do Instituto Histórico e geográfico Brasileiro, n.278, 1968

[2] CARVALHO, José Murilo. A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, Rio de Janeiro: Finep, 1978, p.19

[3] CARVALHO, José Murilo. A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, Rio de Janeiro: Finep, 1978, p.23

[4] CARVALHO, José Murilo. A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, Rio de Janeiro: Finep, 1978, p.41

[5] CARVALHO, José Murilo. A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, Rio de Janeiro: Finep, 1978, p.72

[6] CARVALHO, José Murilo. A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, Rio de Janeiro: Finep, 1978, p.2

[7] CARVALHO, José Murilo. A escola de Minas de Ouro Preto: o peso da glória, Rio de Janeiro: Finep, 1978, p.84



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