José Murilo de Carvalho mostra que as primeiras iniciativas da
siderurgia no período colonial datam de Eschwege em Congonhas do campo em 1812,
João Monlevade em Caeté em 1817, a fábrica de Ipanema de Varnhagen de 1810 e a
de Gaspar Soares em Minas Gerais por Manuel da Câmara em 1808. Depois destes
pioneiros seguiu-se um interregno de cerca de sete décadas até que fundação da
Escola de Minas de Ouro Preto em 1876. José Murilo de Carvalho explica tal declínio
pela decadência da atividade mineradora e ascensão do café. Paralelemente a
estes fatores José Murilo de Carvalho, ao contrário de argumento defendido por
Maria Odila[1],
entende que houve também uma descontinuidade entre a ilustração brasileira ao
final do primeiro reinado e a geração de 1870 sob influência do cientificismo
positivista. Tal descontinuidade se reflete na ausência de produção cientifica
neste período intermediário[2] A grande obra de geologia
até a criação da Comissão Geológica do Império, ainda era o Pluto
brasiliensis de Eschwege publicado em 1833. A Comissão Geológica do Império
foi uma expedição realizada entre 1875 e 1878 sob coordenação do geólogo
Charles Frederick Hartt, que percorreu o Nordeste e Norte coletando um vasto
acervo geológico posteriormente incorporado ao Museu Nacional. Um dos geólogos
da Comissão Oliver Derby declarou em 1883 que “os últimos dez ou quinze anos
testemunharam um marcante despertar no Brasil da importância da pesquisa
científica”.[3] A Escola de Minas de Ouro Preto foi patrocinada pelo imperador Pedro II que em
visita a Academia de Ciências de Paris em 1875 contratou a vinda do
mineralogista Claude Henri Gorceix que trabalhou até 1891 como seu primeiro
diretor. Uma dos primeiros problemas enfrentados foi o próprio recrutamento dos
alunos uma vez que apenas a Politécnica, Escola Militar e a Academia da Marinha
tinha condições de preparar os alunos
para o concurso de admissão da Escola de Minas de Ouro Preto.[4] Em contraste com um ensino
baseado no desenvolvimento das capacidades de memória e retórica Henri Gorceix
tinha o foco na criatividade e pesquisa científica com intensos trabalhos
práticos e de laboratório: “o tempo das discussões frívolas sobre palavras e
teorias, simples especulações do espírito, legadas pela Idade Média, das quais
há muito o velho mundo desembaraçou-se, já passou”. [5] Outra característica
inovadora da Escola de Minas de Ouro Preto era o tempo integral dos professores
e alunos em contraposição à reforma de Leôncio de Carvalho que previa a
frequência livre. O positivismo teve mínima influência na Escola de Minas de
Ouro Preto. Segundo José Murilo de Carvalho: “Dificilmente se poderia dizer
que havia uma demanda efetiva por geólogos e engenheiros de minas na economia exportadora
e escravocrata de 1876. A criação da Escola foi, antes de tudo, um ato de
vontade política, orientado em boa parte por motivos de natureza antes
ideológica do que econômica. Embora os efeitos deste voluntarismo tenham sido
restringidos pelas limitações ao nível da economia, não há dúvida de que eles
se fizeram sentir e tiveram um impacto no próprio desenvolvimento econômico e
tecnológico do país”. [6] José Murilo de Carvalho
mostra que as possibilidades de emprego dos formados eram reduzidas, sendo a
maioria seguindo carreira no ensino. Até 1873 o governo tinha concedido apenas
três patentes em mineração, um retrato da virtual inexistência da pesquisa tecnológica
no setor. As maiores mineradoras eram inglesas que não contratavam engenheiros
brasileiros. Uma exceção a esta regra foi a contratação pela Companhia de Morro
Velho em 1884 de Francisco de Paula Oliveira, após a intervenção direta de
Henri Gorceix.[7]
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