domingo, 28 de março de 2021

Militarismo de Roma

 

Mary Beard mostra como o poderio do império romano pode se estabelecer devido a flexibidade com que as novas áreas conquistadas eram integradas: “O que se pode afirmar com certeza é que os romanos praticamente não fizeram nenhuma tentativa, mesmo durante essa fase mais tranquila de controle imperial [Pax Romana], de impor suas normas culturais ou erradicar as tradições locais”[1], tendo como exceção os druidas na Britânica acusados de sacrifícios humanos e os cristãos. Em alguns casos as próprias áreas invadidas solicitavam a Roma a intervenção como é o caso da cidade de Teos que solicitou ao imperador romano que invadisse a cidade anexando-a ao Império de modo a dar maior tranquilidade a sua população contra o rei local[2]. Os inimigos de Roma contudo contestam o projeto imperial romano pacífico. Segundo Tácito, referindo-se ao poder romano na Britânia: “eles criam a desolação e chamam isso de paz” “solitudinem faciunt, pacem appellant”[3]. Mary Beard, porém, observa que os povos conquistados eram tão militaristas quanto Roma.[4] Tito Lívio destaca que as boas relações com as províncias invadidas foram a chave para a dinâmica da expansão romana em seus primórdios. Tácito observa que a maneira como muitas províncias se aculturavam e adotavam as tradições romanas acaba servindo aos interesses de Roma: “Eles, em sua ignorância, davam a isso o nome de civilização, mas na realidade era parte de sua escravização” (humanitas vocabatur, cum pars servitutis esset).[5] Em muitas províncias eram estendidos os direitos de cidadania romana aos nascidos na região, incluindo o direito de voto: “isso preparou o terreno para um modelo de cidadania e de pertencimento que teve enorme importância para as ideias romanas de governo, direitos políticos e etnicidade e nacionalidade. Esse modelo foi logo estendido ao exterior e acabou sustentando o Império Romano”.[6] O imperador Septímio Severo tinha origem no território romano na África. Trajano e Adriano eram da província romana da Espanha.[7] Esse processo culminou em 212 quando Caracala transformou todo habitante livre do Império em cidadão romano, de modo que mais de 30 milhões de habitantes das províncias tornaram-se legalmente cidadãos romanos. [8]



[1] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 481

[2] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 192

[3] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 504

[4] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 20

[5] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 486

[6] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 163

[7] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 69, 515

[8] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 68



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