quinta-feira, 4 de março de 2021

Iluminação no Rio de Janeiro do século XIX

 

Caio Prado Júnior observa que com o fim do tráfico de escravos em 1850 foram liberados consideráveis recursos para investimentos como por exemplo a fundação por Irineu Evangelista de Souza da Companhia de Iluminação a gás do Rio de Janeiro em 1854 com postes fabricados pela fundição de Ponta da Areia em Niteroi.[1] A imprensa se contagia com as perspectivas de progresso. A lâmpada de Argand revolucionara a iluminação artificial em 1784 usando óleo como combustível. No Brasil em fins do século XVIII, começou a iluminação pública por candeeiros à óleo de baleia. Na tela de Thomas Endler de 1817 é mostrado o uso de candeeiros com óleo de baleia em torno do chafariz de mestre Valentim no Rio de Janeiro. Sobre a iluminação a gás na capital o Jornal do Comércio em 2 de março de 1851 exalta a iniciativa de Irineu Evangelista e escreve: “Viva o progresso de 1851 ! [...] é mais uma fonte de trabalho que se vai abrir, é mais uma indústria que nasce, é mais um melhoramento de asseio, de comodidade e segurança pública. Avante ! É esta a palavra da época em que vivemos, é este o voto de todos aos brasileiros”.[2] Segundo Mauá “reunir os capitais, que viam repentinamente deslocados do ilícito comércio, e fazê-los convergir a um centro donde pudessem ir alimentar as forças produtivas do país, foi o pensamento que me surgiu na mente ao ter a certeza de que aquele fato era irrevogável”[3]. José Maria da Silva Paranhos faz o mesmo diagnóstico: “a abolição efetiva do tráfico de escravos [...] deixou disponível uma grande massa de capitais que se empregavam nas especulações da costa da África. Esses recursos foram novos e fortes estímulos para as tendências pacíficas de nossa sociedade concorreram poderosamente para o desenvolvimento industrial e comercial que se observou entre nós”.[4] Nelson Werneck Sodré observa que os anos 1850 experimentaram um período de grande euforia financeira com novas inciativas comerciais, industriais e financeiras onde a circulação monetária foi grandemente alargada com a faculdade emissora concedida ao Banco do Brasil.[5] Para Raimundo Faoro a época revela que “o país despertava mais para a aventura do que para o progresso”.[6] Em 1866 Mauá vendeu a parte de sua companhia de iluminação a gás aos ingleses. [7] Em Pernambuco parte do capital antes usado no tráfico de escravos passa a ser empregado em investimentos industrias como a construção de uma fábrica de velas em 1860, fábricas de tecidos de algodão em 1861, no entanto, os dados mostram pouco investimento em maquinaria nos engenhos de açúcar até a década de 1870.[8]

[1] Visconde de Mauá: pioneiro da indústria brasileira, Grandes figuras em quadrinhos, n.9, Rio de Janeiro:Ed. Brasil-America, EBAL, 1959; TELLES, Pedro Carlos da Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX, Rio de Janeiro:Clube de Engenharia, 1994, p.178, 319, 367

[2] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.37

[3] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.35

[4] HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.82

[5] SODRÉ, Nelson Werneck. Formação histórica do Brasil, Rio de Janeiro:Civilização Brasileira,1979, p.247

[6] FAORO, Raymundo. Os donos do poder: formação do patronato político brasileiro, v.2, São Paulo:Ed. Globo, 2000, p.29

[7] McDOWALL, Duncan. A história da empresa que modernizou o Brasil, Rio de Janeiro:Ediouro, 2008, p. 171

[8] EISENBERG, Peter. Modernização sem mudança: a indústria açucareira em Pernambuco 1840-1910. São Paulo: Unicamp, 1977, p.94



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