No Maranhão[1] o padre capuchinho Claude d'Abbeville testemunhou em 1612, o discurso de um
ancião indígena que questionava as iniciativas dos franceses. Esse índio, de
nome Momboré-uaçu, discursou na ocasião para todos os principais morubixabas
Tupinambá reunidos na aldeia de Assauap: “Vi a chegada dos péro
[portugueses] em Pernambuco e Potiú; e começaram eles como vós, franceses,
fazeis agora. De início, os peró não faziam senão traficar sem pretenderem
fixar residência. Nessa época, dormiam livremente com as raparigas, o que os
nossos companheiros de Pernambuco reputavam grandemente honroso. Mais tarde,
disseram que nos devíamos acostumar a eles e que precisavam construir
fortalezas, para se defenderem, e edificar cidades para morarem conosco. E
assim parecia que desejavam que constituíssemos uma só nação. Depois, começaram
a dizer que não podiam tomar as raparigas sem mais aquela, que Deus somente
lhes permitia possuí-las por meio do casamento e que eles não podiam casar sem
que elas fossem batizadas. E para isso eram necessários paí [sacerdotes].
Mandaram vir os paí; e estes ergueram cruzes e principiaram a instruir os
nossos e a batizá-los. Mais tarde afirmaram que nem eles nem os paí podiam
viver sem escravos para os servirem e por eles trabalharem. E, assim, se viram
constrangidos os nossos a fornecer-lhos. Mas não satisfeitos com os escravos
capturados na guerra, quiseram também os filhos dos nossos e acabaram
escravizando toda a nação; e com tal tirania e crueldade a trataram, que os que
ficaram livres foram, como nós, forçados a deixar a região. Não creio, entretanto,
que tenhais [vós os franceses] o mesmo
fito dos peró [portugueses]; aliás, isso não me atemoriza, pois velho como
estou, nada mais temo. Digo apenas simplesmente o que vi com meus olhos”.[2]
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