segunda-feira, 1 de março de 2021

Batalha de Ourique

 

A política mercantilista obrigava o Brasil a adquirir todas suas importações de Portugal [1]. Os laços históricos entre Portugal e Inglaterra, contudo, vinham de séculos anteriores. A tomada de Ourique em 1140 expulsando os mouros islâmicos permitiu o surgimento do reino de Portugal antes mesmo da conquista de Lisboa em 1147 com o apoio de cruzados ingleses e flamengos.[2] O Tratado de Windsor de 1387 permitia aos ingleses ao acesso ao porto de Lisboa e desta forma evitar a rota terrestre para chegar às cidades italianas numa época de guerras e de constantes saques e roubos, enquanto que Portugal por sua vez poderia com o apoio inglês partir para expansão marítima protegida dos ataques dos espanhóis.[3] Embora tenha sido a batalha de Ourique no atual Baixo Alentejo (sul de Portugal) tenha sido a primeira grande vitória de Afonso Henriques, onde conseguiu com apenas algumas centenas de homens a cavalo conseguiu derrotar os muçulmanos muito mais numerosos, Oliveira Marques se refere a esta batalha como uma razia, ou seja, a invasão de território inimigo ou estrangeiro, numa incursão rápida visando o saque, sem o apoio de qualquer sistema organizado de abastecimento e sem coberturas de reservas. Depois da vitória Afonso Henriques se autoproclama Rex Portugallensis (Rei dos Portucalenses ou Rei dos Portugueses) sendo reconhecido pelo rei de Leão em 1143 mediante o Tratado de Zamora e, posteriormente o reconhecimento formal pela Santa Sé em maio de 1179, através da bula Manifestis probatum, do Papa Alexandre III. À semelhantes de outros reis como Constantino na batalha contra Maxêncio na ponte Mílvio, a partir do século XIV surgiram relatos da ocorrência de uma visão milagrosa que Afonso Henrique teria tido do Anjo Custódio de Portugal garantindo-lhe a vitória. Esta lenda surgiu em 1485 (três séculos após a batalha), quando Vasco Fernandes de Lucena, embaixador de D. João II enviado ao papa Inocêncio VIII, incluiu no relato da batalha de Ourique o aparecimento de Cristo.[4] Uma referência ao milagre de Ourique consta no brasão de armas da nação de Portugal. Segundo Alexandre Herculano: “A grande religiosidade da Idade Média, foi um dos fatores, para o desenvolvimento do carácter místico atribuído à batalha de Ourique - na crença que havia na existência de milagres interventivos na vida dos povos e neste caso colocando Portugal como país amparado pela vontade de Deus." Rocha Pita ao escrever em 1730 se refere que “è bem autêntica entre os naturais, e recebida entre os estrangeiros (posto que impugnada por alguns castelhanos) aquela misteriosa aparição de Cristo Senhor Nosso ao primeiro rei lusitano D. Afonso Henriques, o qual na noite precedente ao dia que havia de dar no campo de Ourique batalha contra Ismael e a outros quatro reis mouros [...] e adormecendo sobre a Bíblia, lhe apareceu em sonhos  um ancião, que lhe assegurou que venceria e destruiria aqueles reis infiéis, e que o mesmo Deus lhe apareceria”.[5]



[1] EISENBERG, Peter. Modernização sem mudança: a indústria açucareira em Pernambuco 1840-1910. São Paulo: Unicamp, 1977, p.30

[2] BASCHET, Jérôme. A civilização feudal: do ano mil à colonização da América, São Paulo:Globo, 2006, p.91

[3] COSTA, Marcos. O livro obscuro do descobrimento do Brasi, Rio de Janeiro:Leya, 2019, p. 18

[4] Batalha de Ourique in Infopédia [em linha]. Porto: Porto Editora, 2003-2021. [consult. 2021-03-01 19:38:24]. Disponível na Internet: https://www.infopedia.pt/$batalha-de-ourique

[5] PITA, Sebastião da Rocha. História da América portuguesa. Belo Horizonte: Itatiaia, 1976, p.60  https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/handle/id/574177/000970492_Historia_America_portuguesa.pdf



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...