terça-feira, 23 de março de 2021

A vulgaridade do trabalho e da inovação em Roma antiga

 

A escravatura aumentava o tempo livre dos romanos que tinham em grande conta a ociosidade.[1] Cícero e Sêneca exaltam o ócio como superior ao trabalho. Cícero critica os que precisam trabalhar para ganhar a vida: “O dinheiro que vem de vender o seu trabalho é vulgar e inaceitável para um cavalheiro, pois os soldos  são efetivamente os grilhões da escravidão”.[2] Para Sêneca (na figura) em Brevitate Vitae: soli omnium otiosi sunt qui sapientiae vacant. - De todos, apenas aqueles que têm tempo para a sabedoria têm tempo livre [3]. Sêneca aponta que a maioria das invenções de sua época foram trabalhos de escravos, o povo simples, os únicos interessados em tais assuntos:[4] “foi certamente a razão que inventou tudo isto, mas não a verdadeira razão. Foi o homem, mas não o homem sábio que tudo descobriu; da mesma forma que inventaram os barcos, nos quais se atravessa rios e mares, barcos aparelhados com velas para aprisionar a força dos ventos, com leme na popa para mudar a rota em uma ou outra direção”.

[1] KITTO, Humphrey Davey Findley. Os gregos. Coimbra:Armenio Amado, 1970, p. 222

[2] BEARD, Mary. SPQR: uma história da Roma Antiga, São Paulo: Planeta, 2010, p. 435

[3] CRUZ, Murillo. A norma do novo: fundamentos do sistema de patentes na modernidade: filosogia, história e semiótica. Rio de Janeiro, 1996. Tese Doutorado, Coppe/UFRJ, Engenharia de Produção, p.40

[4] MOKYR, Joel. The lever of riches: technological creativity and economic progress, New York:Oxford University Press, 1990, p.195; NISBET, Robert. História da ideia do progresso. Brasília:UNB, 1980, p. 56



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