domingo, 21 de fevereiro de 2021

Um quisto cultural no Brasil colónia do século XVII

 

O viajante Henry Koster em fins do século XVIII descreve que “Recife é um lugar próspero, aumentando dia a dia em importância e opulência”. Os artífices se organizavam em locais como a rua dos Ferreiros, a rua dos Calafates, a rua dos Carvoeiros, a rua dos Tanoeiros, a rua dos Barbeiros, dos Ourives e dos Caldeireiros. Lemos Brito contesta a suposta superioridade da colonização holandesa no Brasil: “dificilmente o Brasil teria alcançado o desenvolvimento de seu espírito nacional sob o pulso de ferro dos governos holandeses. A não ser em Recife, onde Maurício de Nassau se fez cercar de fausto e conforto, construindo moradias e pontes (como a ponte de Recife) que assegurassem sua defesa e trazendo arquiteto e pintores, tão do seu refinado gosto, que é que ficou da longa dominação holandesa no Brrasil ?”.[1] Wilson Martins o papel de pintores como Franz Post e A. Eckout, ou Zacarias Wagner, porém, não pode dizer que esse destaque da pintura holandesa na corte de Nassau pouco efeito teve sobre as artes da colônia: “Seria gratuito concluir dá que, reciprocamente possa haver um capítulo holandês na história da pintura brasileira. È imaginosa, mas pouco fundada na realidade, a ideia de que o Recife, durante esse período possa ser visto como um quisto da Renascença [como aponta José Honório Rodrigues e Joaquim Ribeiro em Civilização Holandesa no Brasil]. A ser verdadeiro, seria, ainda assim, retardatário e anacrônico. Parece igualmente inflada a afirmativa de que os holandeses e particularmente Maurício de Nassau tivessem transformado arquitetonicamente a cidade em fruto do renascimento. A Corte nassoviana é que foi um quisto cultural na Colônia, mas, por isso mesmo será difícil apontar concretamente para influências que se supõe tivesse exercido na vida intelectual e artística do país”.[2] Maurício de Nassau fundou a Cidade Maurícia, uma tentativa de réplica tropical da capital holandesa, ergueu palácios, um templo calvinista e instalação o primeiro observatório no Brasil onde seria anotado o eclipse solar de 1640, criou um jardim botânico em que trabalharam cientistas para o médico William Piso e o botânico Georg Macgrave [3] que colecionaram plantas e animais no Brasil, além de estudar doenças tropicais e terapias indígenas e que segundo Dante Martins Teixeira comenta em "Brasil Holandês", produziram em 1668 "Historia Naturalis Brasiliae" [4] "a mais importante obra científica sobre o Brasil até o século XIX". Antes da inauguração da Ponte do Recife em 1644, atual Ponte Mauricio de Nassau, projetada pelo arquiteto judeu Baltazar de Affonseca, o Conde de Nassau divulgou amplamente que na inauguração da ponte faria um Boi Voar, o que foi possível com uso de um engenhoso mecanismo de cordas e roldanas e um boi empalhado.



[1] BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.54

[2] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 168

[3] SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia, São Paulo:Cia das Letras, 2015, p.61

[4] https://www.youtube.com/watch?v=DVrGa5uv6JE https://www.obrasraras.fiocruz.br/media.details.php?mediaID=35



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