segunda-feira, 22 de fevereiro de 2021

Um parêntese luminoso no Brasil colonial

 

Entre as obras dos artistas holandeses do século XVII encontram-se os desenhos conhecidos como "Theatri Rerum Naturalium Brasiliae" cuja autoria é atribuída a atribuída a Albert Eckhout. Segundo Petronella Albertin os desenhos do Theatrurn possivelmente serviram de modelo para outras obras de arte. [1] No Brasil holandês nasceu o judeu Jacob de Andrade Velosino que se tornaria um célebre médico em Haia.[2] Jacob Velosino formou-se pela Faculdade de Medicina de Amsterdam após a expulsão dos holandeses sendo autor de “O Teólogo Religioso”; “Messias Restaurado e “Epítome de Moisés”. [3] Para as observações astronômicas de Marcgraf foi utilizado em 1639 uma das torres do palácio de Fruiburgo de Nassau na ilha Antonio vaz em Pernambuco e que servia como farol devido a sua altura. No jardim botânico instalado Georg Marcgraf descreveu 668 espécies ou variedades até então desconhecidas das quais 422 foram ilustradas no "Historia Naturalis Brasiliae". A obra foi difundida na obra por entusiastas como o médico Christian Menzel, e teve impacto na obra de Georges Cuvier que enviou um assistente para obter a descrição de seres aquáticos “feitas pelo genial investigador da missão científica holandesa”. O médico Piso em sua obra De medicina Brasiliensié descrita por Juliano Moreira como “uma das mais lídimas glórias da literatura médica”, onde mostra a ação terapêutica de diversos produtos encontrados no Brasil junto aos indígenas como a copaíba, tipo, sassafrás, capeba ou pariparoba e o jaborandi.[4] Além desses artistas e cientistas vieram vários letrados ilustres como Joahn Bodecher Benning professor de ética, Elias Herckmans autor de Descrição geral da Capitania da Paraíba (1639) e o médico Servaes Carpentier. Recife sofreu vários melhoramentos urbanísticos e a Cidade Maurícia foi porjetada talvez pelo engenheiro Frederick Pistor. A importância do Recife do século XVII pode ser avaliada como uma notável cidade pode ser constatad pelo atlas de Joahanne Blaeu que conta as longitudes a partir de Recife.[5] Fernando de Azevedo relata a colonização holandesa em Pernambuco no governo de Maurício de Nassau (1637-1644) interrompeu um período de obscurantismo promovido pela administração portuguesa atuando como um “parêntese luminoso que se inaugurou no Brasil colonial uma época de atividades científicas, realizadas pelo grupo de homens  de ciência que o conde de Nassau mandou vir a Pernambuco”.[6] Segundo Gilberto Freyre o Recife judaico holandês tornara-se “o maior centro de diferenciação intelectual na colônia que o esforço católico no sentido da integração procurava conservar estranho às novas ciências e às novas línguas”. Capistrano de Abreu sobre os livros de Barleus, Piso e Marcgrave lamenta-se do pouco impacto dessas obras na cultura local, ainda “que atingiram uma altura a que nenhum obra portuguesa ou brasileira se pode comparar nos tempos coloniais, parece mesmo terem sido pouco lidos no Brasil apesar de escritos em latim, a língua universal da época, tão insignificantes vestígios encontramos deles”.[7] nenhuma outra missão de intelectuais e cientistas estrangeiros esteve no Brasil senão até o século XIX.



[1] ALBERTIN, Petronella. Arte e ciência no Brasil holandês Theatri Rerum Naturalium Brasiliae, um estudo dos desenhos. Revta bras. zool., S Paulo 3 (5) :249-326 28.vi.1985 https://www.scielo.br/pdf/rbzool/v3n5/v3n5a01.pdf

[2]MOTOYAMA, Shozo; FERRI, Mario Guimarães. História das Ciências no Brasil, São Paulo: USP,1979, p. 200

[3]PAULA, Sergio Goes de. Um inventário pioneiro de biografias para os historiadores das ciências. Hist. cienc. saude-Manguinhos [online]. 1998, vol.5, n.1 [cited  2021-02-22], pp.127-144. Available from: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59701998000100008&lng=en&nrm=iso>

[4]MOTOYAMA, Shozo. Prelúdio para uma história, São Paulo: USP, 2004, p.96

[5]HOLANDA, Sérgio Buarque. História geral da Civilização Brasileira, tomo I, A época Colonial, São Paulo: Difusão Europeia, 1960, p.247

[6]AZEVEDO, Fernando. A cultura brasileira, São Paulo: Melhoramentos, 1971, p. 373

[7]ABREU, Capistrano. Capítulos da história colonial, Rio de Janeiro: 1907. In: AZEVEDO, Fernando. A cultura brasileira, São Paulo: Melhoramentos, 1971, p. 375



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