terça-feira, 23 de fevereiro de 2021

Origens da Tipografia no Brasil

 

Em 1485 foi impresso em Lisboa o primeiro livro de autoria do rabino judeu Jacó Bem Ascer com o tíulo Livro do Caminho da Vida.[1] António Ribeiro dos Santos escreve na sua Memória sobre as Origens da Tipografia em Portugal no Século xv: “Os primeiros Impressores que apparecêrão entre nós ... forão Judeos Estrangeiros, que vierão a Portugal de diversas partes de Itália. A prática em que estavão os Judeus de multiplicarem os exemplares da Lei para uso de suas Synagogas, e dos mesmos particulares, fazia com que também se multiplicassem os impressores da Nação”. Em 1561 foi publicado em Goa o Compêndio Espiritual da Vida Cristã de Gaspar Leão. Em 1590 Macau teria seu primeiro livro impresso. Segundo o bibliófilo Inocêncio Francisco da Silva a Oração apodíxica é o primeiro livro publicado por um brasileiro, Diogo Gomes Carneiro em 1641 em uma tipografia em Lisboa[2]. A informação de que Maurício de Nassau trouxe uma tipografia para o Brasil no Recife em 1647 não é confirmada pois Brasilsche Gelt saclcSaco de ouro no Brasil foi na verdade impresso na Holanda. O mestre impressor Pieter Janszoon chegou a vir ao Brasil, mas morreu assim que chegou.[3] O Alvará de 20 de março de 1720 proibia letras impressas no Brasil. Em 1744 é publicado o Exame de Artilheiros e em 1748 o Exame de Bombeiros, ambos do engenheiro Alpoim, impressos segundo José Mello na tipografia de Antonio Isidoro da Fonseca no Rio de Janeiro, mas com indicação de impressão em Lisboa e Madrid para tentar escapar ao controle português[4]. Felix Pacheco, contudo, mostra que ao comparar as características tipográficas dos dois livros de fato eles foram publicados no exterior.[5] De qualquer forma, o livro foi recolhido pelo corregedor de Lisboa. Em 1746 Antonio Isidoro da Fonseca sob os auspícios de Gomes Freire de Almeida[6] trouxe de Lisboa o equipamento de tipografia e montou uma pequena oficina no Rio de Janeiro onde pode imprimir a Relação da Entrada do bispo Antonio do Desterro redigida por Luis Antonio Rosado da Cunha com dezessete páginas de texto. [7]. Em 1747 Isidoro da Fonseca publicou a Relação de Entrada, impresso desautorizado de Portugal e logo retirado de circulação. [8] A Carta Régia  de 10 de maior de 1747 dirigida ao governador geral Gomes Freire de Andrade e a Carta Régia de 6 de junho de 1747 endereçada ao governador da capitania do Rio de Janeiro ordenou o sequestro de todas as publicações de imprensa da Colônia e a proibição de novas publicações sob pena dos responsáveis serem presos e remetidos para o reino [9] “no qual não é conveniente que se imprimam papeis no tempo presente, nem pode ser de utilidade aos impressores trabalharem no seu ofício, aonde as despesas são maiores do que no Reino, do qual podem ir impressos os livros e papeis”.[10] Nesta ocasião foi destruída a oficina tipográfica do jesuíta Francisco de Faria no Rio de Janeiro.[11] O Alvará de 16 de dezembro de 1794 condenava o envio de livros e papeis da metrópole para a colônia. No final do século XVIII mesmo na metrópole o intendente geral da polícia Diogo Inácio de Pina Manique proibiu livros franceses revolucionários e a importação de livros para o Brasil. [12] Segundo Robert Southey: “outra prova de miserável ignorância política foi não se tolerar no Brasil tipografia alguma antes da transmigração da corte. Achava-se a grande massa do povo no mesmo estado como se nunca se houvesse inventado a imprensa”.[13]

[1] CARVALHO, Francisco Freire. Primeiro ensaio sobre historia litteraria de Portugal, Lisboa:Typografia Rollandiana, 1845 https://books.google.com.br/books?id=LkEWAAAAYAAJ

[2] LAGO, Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 134

[3] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.159

[4] MELLO, José Barboza. Síntese Histórica do livro, Rio de Janeiro:Ed. Leitura, 1972, p. 332

[5] PIVA, Teresa. O brigadeiro José Fernandes Pinto Alpoim, Revista Brasileira de História da Matemática, v.11, n. 21 abril 2011, p.107-120 http://www.rbhm.org.br/

[6] SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.2, p. 394

[7] SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 20

[8] LAGO, Pedro Correa. Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 167, 187

[9] VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. IV, p. 85,90

[10] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.159; MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 83

[11] MOREL, Regina. Ciência e Estado a política científica no Brasi, São Paulo: T. Queiroz, 1979, p.26

[12] CALDEIRA, Jorge. História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.110

[13] SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.3, p. 475



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