sexta-feira, 26 de fevereiro de 2021

Sambaquis

 

No sítio Tapeirinha sambaqui fluvial localizado perto de Santarém foram encontradas cerâmicas de 5.000 a.c.[1] Os sambaquis, termo de origem tupi que significa “monte de conchas” [2] são depósitos construídos pelo homem, colinas artificiais também conhecidas como mounds,[3] constituídos por materiais orgânicos e calcários (de origem marinha, terrestre ou de água salobra) empilhados ao longo do tempo, e nos quais alguns grupos indígenas utilizavam como santuário, enterrando neles os seus mortos ou escolhiam como locais especiais para construir suas malocas. No ano de 1847 os dinamarqueses Steenstrup, Forchhmmer e Vorsae lhes dão o nome de kjoekkmmondding (restos de cozinha).[4] Segundo Antonio Serrano: “Na parte superior de muitos sambaquis, que são claramente de origem natural, observei conchas e ossos de peixes e de mamíferos que são tipicamente restos de cozinha”.[5] Ladislau Neto destacou-se como defensor da teoria artificialista pela qual os sambaquis seriam o resultado de uma ação humana e não uma ocorrência natural.[6] Segundo Angyone Costa: “sambaquis são montes de carapaças de moluscos, geralmente e forma arredondada, onde se acumulam detritos deixados pelos primeiros homens e nos quais se encontram artefatos de barro e pedra, ossadas humanas, ossadas de animais, outros elementos que evocam a vida tribal”.[7] Segundo Batista Caetano o termo sambaqui tem origem no tupi tambaqui que significa peito de mulher devido a sua forma cônica, ou de sambá ou tambá que significa em tupi concha, ostra, ki que significa empilhar [8]. No sambaqui de Jaboticabeira II em Santa Catarina, um cemitério ativo por cerca de 800 anos [9] com 8 metros de altura foram encontradas cerâmicas.[10] No sambaqui de Guaíba foram encontrados  colares e pingentes feitos de conchas e dentes de animais.[11] Entre os artefatos líticos encontrados em sambaquis os bifaces são comuns como os encontrados na ilha de Santo Amaro não tendo sido encontrados cerâmicas na parte mais antiga do sambaqui [12]. O mais antigo sambaqui paranaense foi datado de 4900 anos.[13] Na zona litorânea de São Paulo o sambaqui de Marutuá foi datado em 7500 anos.[14] No sambaqui de Pedra Oca na Bahia foram encontradas as cerâmicas mais antigas datadas de 2850 anos [15]. No sambaqui de Mar Casado em São Paulo e Buracão no Guarujá foram encontradas amostras de agulhas, colar de dentes e pendentes em conchas de moluscos [16]. Entre os tupinambás havia a crença de que quem fabricava algum vaso devia ele próprio levá-lo ao fogo, caso contrário, o vaso terminava por partir-se.[17] A grande quantidade de artefatos líticos encontrados em Ilha Grande sugere que este local tenha servido como uma espécie de “fábrica lítica” para produção de artefatos difundidos pela região.[18] Por volta do ano 1000 os grupos caçadores coletores sambaquis foram dominados pelas culturas Tupi e Macro Gê que já dominavam a agricultura.[19]



[1]LUNA, Suely. Sobre as origens da agricultura e da cerãmica pré-histórica no Brasil, 2003 https://www.ufpe.br/clioarq/images/documentos/2003-N16/2003a4.pdf

[2] VAINFAS, Ronaldo; FARIA, Sheila; FERREIRA, Jorge; SANTOS, Georgina. História Volume único, São Paulo:Saraiva, 2010, p.19; MENDES, Josué Camargo. Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 75

[3] LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade, Brasília: UNB, 1981, p. 198

[4] COSTA, Angyone. Introdução à arqueologia brasileira: etnografia e história, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1938, p.77

[5]TAPAJÓS, Vicente. História da América, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1974, p. 18

[6] HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 118

[7] COSTA, Angyone. Introdução à arqueologia brasileira: etnografia e história, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1938, p.86

[8] HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 75

[9] HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 73

[10] LOPES, Reinaldo. 1499 o Brasil antes de Cabral,Rio de Janeiro:Harper Collins, 2017, p. 77

[11] HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 74

[12] MENDES, Josué Camargo. Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 84, 93

[13] MENDES, Josué Camargo. Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 86

[14] MENDES, Josué Camargo. Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 141

[15] MENDES, Josué Camargo. Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 104

[16] MENDES, Josué Camargo. Conheça a pré história brasileira, São Paulo: USP, Polígono, 1970, p. 95; ALVES, Daniela Maria. A indústria lítica do sambaqui Mar Casado e outros sítios do litoral do Estado de São Paulo. Dissertação de Mestrado Apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Arqueologia do Museu de Arqueologia e Etnologia da Universidade de São Paulo, 2010.

[17] METRAUX, Alfred. A religião dos tupinambás e suas relações com as das demais tribos tupi-guaranis, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1950, p. 292

[18] HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 76

[19] HETZEL, Bia; MEGREIROS, Silvia. Prehistory of Brazil. Rio de Janeiro:Manati, 2007, p. 79



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