quarta-feira, 24 de fevereiro de 2021

Rua do Ouvidor, a artéria do Rio

 

Arthur Azevedo em matéria no jornal O País de 8 de junho de 1894 se refere “a ostentação ruidosa e faceira da rua do Ouvidor, a risonha e constante animação dos cafés concertos e luxuosas confeitarias”.[1] José Bevilacqua ao desembarcar no Rio de Janeiro em 1879 constata: “O Rio de Janeiro é o Brasil e a rua do Ouvidor é o Rio de Janeiro”.[2] Von Koseritz em Imagens do Brasil de 1885 relata que “O Rio de Janeiro é o Brasil, e a Rua do Ouvidor é o Rio de Janeiro, eis uma sentença cheia de verdade”.[3] Grandes lojas se destacam na rua do Ouvidor: a Casa Raunier (que recebeu elogios de José de Alencar no romance A Senhora de 1875) [4], a Confeitaria Carceler, a La Belle Amazone (vendia vestidos de senhoras para montar a cavalo), Notre Dame de Paris, Wallerstein et Masset e Desmarais, entre outras.[5] Para Joaquim de Macedo: “Não houve acontecimento público de relevância em que a Rua do Ouvidor não tomasse parte afetiva, fosse festa ou revolta”.[6] Segundo Luiz Edmundo: “Foram os franceses do tempo do Sr. Pedro I, saiba-se, com as suas lojas de novidades, as suas costureiras, os seus cabeleireiros e umas instalações completamente novas para nós, feitas à moda de Paris, que criaram a elegância de certas casas de comércio da Rua do Ouvidor”.[7] Luiz Edmundo se refere a rua do Ouvidor como a “artéria principal da cidade”. Segundo o crítico Brito Brota ao escrever em 1900: “o chique era mesmo ignorar o Brasil e delirar por Paris, numa atitude afetada e nem sempre inteligente”.[8] Anfriso Fialho descreve a rua do Ouvidor do século XIX como “o coração e ouvidos do Rio de Janeiro”. Da rua do Ouvidor partiriam os primeiros boatos da queda da monarquia e o golpe republicano.[9] Na rua do Ouvidor foi instalado o primeiro telefone do Rio de Janeiro. Além de ter sido a primeira a ter obras de calçamento, em 1857, e a receber iluminação elétrica, no ano de 1891. Com a abertura da Avenida Central em 1906 o prestígio da rua do Ouvidor foi ofuscado.[10]



[1]RENAULT, Delso. A vida brasileira no final do século XIX, Rio de Janeiro:José Olympio, 1987, p. 240

[2] GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.165

[3] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.193

[4] MOREIRA, Regina da Luz; FONTES, Paulo. A casa do empresário: trajetória da Associação Comercial do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro: FGV, 2009, p.118

[5] GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.73

[6] GONTIJO, Silvana. O mundo em comunicação, Rio de Janeiro:Aeroplano, 2001, p.193

[7] EDMUNDO, Luiz. O Rio do meu tempo, Rio de Janeiro:Conquista, 1957, v.I, p. 72

[8] SODRÉ, Nelson Werneck. A história da imprensa no Brasil, Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1966, p. 343

[9] GOMES, Laurentino, 1889, Rio de Janeiro: GloboLivros, 2013, p.45

[10] 100 anos de República, v. II , 1904-1918, São Paulo: Abril Cultural, p. 12



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