Desde o século XX a historiografia medieval tem dado
destaque ao papel das inovações técnicas na transformação das estruturas
sociais e neste sentido destacam-se os trabalhos de Lefebvre des Noettes em
1931 nos efeitos da atrelagem racional sobre o desenvolvimento agrícola e de
Roger Dion em 1939 demonstrando que a variedade de solos superficiais
condicionou o porgresso da agricultura.[1] Para Lefebvre
des Noettes o aumento do uso da tração animal que essa tecnologia possibilitou
contribuiu de forma decisiva para o
declínio e quase extinção da escravidão no período medieval. Lynn White
expandiu o argumento alegando que os sistemas políticos e sociais dominantes na
idade média tem sua origem em inovações tecnológicas como os arreios dos cavalos
e o surgimento da cavalaria e o sistema manorial de arrendamento de terras
possibilitado principalmente pelo advento do arado de rodas atrelado aos bois
para remexer a terra e consequentemente aumentar a produtividade agrícola
significativamente.[2] Robert Fossier observa que esse viés mecanicista historiográfico tem sido
complementado por uma abordagem que leva em conta as fraturas sociais e as
condições mentais que possibilitam a incorporação das técnicas [3]. Lefebvre
des Noëttes no seu livro L’attelage: le
cheval à travers les âges de 1931 argumenta uma razão que explica o pouco
uso dos cavalos para transporte de cargas pesadas era o o posicionamento
indevido dos arreios que forçava o pescoço do animal dificultando a respiração.[4] Esta
técnica de atrelagem introduzida nos séculos XII e XIII multiplicou por cinco a
força de tração efetiva animal.[5] Cavalos
com arreamentos adequados lavrando a terra são registrados na costa norte da
Noruega no século IX, no entanto as atrelagens de bois não desapareceram por
completo na Europa ainda no século XIII.[6] O arreio
para o boi era menos inadequado. Usher mostra que o arreio ineficiente do
passado pode ser atribuído em parte porque não havia disposição em fazer um uso
extensivo da força animal. Aparentemente o novo arreio não suplantou de
imediato o antigo pois o novo modelo não e dominante nas ilustrações do século
X ou XI. [7] Para
Lynn White o trabalho de Lefebvre des Noettes La Force animale à travers les âges de 1924 e sua segunda edição L’attelage et le cheval de selle à travers
les âges de 1931 ofereceu uma solução plausível para explicar o surto
econômico europeu observado em torno do ano 1000. Umberto Eco mostra que no
século XII ao deslocar o arreio do peito para a espádua do animal permitiu
maior liberdade de ação aos músculos, aumentando sua força de pelo menos dois
terços, e assim a possibilidade de realizar trabalhos até então só possível aos
bois, mais robustos porém mais lentos.[8] A
primeira representação de atrelagem com uma coleira de ombro, também conhecida
como “espádua” [9] trata-se
de um manuscrito mantido na Biblioteca Municipal de Trier e com data de cerca
de 800.[10]
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