No início do século XX a reforma urbana promovida na capital Rio de Janeiro pelo prefeito Pereira Passos no governo de Rodrigues Alves, sob influência da reforma urbana em Paris por Haussmann [1], viria com intuito de exibir ao mundo desenvolvido a imagem de uma nação próspera e civilizada. A proposta de avenidas largas em Paris tinha como objetivo facilitar a movimentação de tropas para o enfrentamento de manifestações populares ou revolucionárias.[2] Em 1904 Frontin participaria do projeto da Avenida Central apontada por Jeffrey Needell como a “vitrine da civilização” e símbolo do progresso [3]. Nas palavras de Figueiredo Pimentel “O Rio civiliza-se”.[4] Segundo Luiz Edmundo: “Passos transformou a cidade bárbara em metrópole digna da civilização ocidental. Qual homem do começo do século que, recordando os benefícios que então se espalhavam sobre esta querida terra, não se lembra da frase que andou pela boca do povo, pelas ruas, pelas casas, pelos cafés, nas saudações que se trocavam, no estribilho das canções e que dizia assim: O Rio civiliza-se ? Civilizou-se o Rio”.[5] Segundo Pedro Calmon: “O progresso [...] envaidecera a cidade vestida de novo, principalmente inundada de claridade, com jornais nervosos eu a convenciam de ser a mais bela do mundo [..] Era a transição da cidade malsã para a “maravilhosa””.[6] O poeta Olavo Bilac exalta com entusiasmo a abertura da Avenida Central em 1906: “começamos a nos encaminhar para a nossa reabilitação”.[7] O crítico implacável do governo Rodrigues Alves, o jornal O Correio da manhã em editorial quando da inauguração da Avenida Central comentou que “o dinheiro do contribuinte foi esbanjado, desperdiçado em indenizações vergonhosas, em que se abarrotou a advocacia administrativa, distribuído em negociatas e arranjos”.[8] Carlos Laet em artigo no jornal do Brasil de 24 de maio de 1906 critica o processo de desapropriações: “gemem os proprietários do que é seu, mas triunfal segue o carro da prefeitura, conculcando o direito de propriedade e repetindo odiosas extorsões. Por outro lado, se padecem os proprietários, menor não é o sofrimento da gente pobre, que não tem onde morar, a pobreza, o operariado aglomeram-se em vastas casas, dividindo, subdividindo os compartimentos, e assim criando a mais nociva e insalubre propiniquidade”.[9] Para Jeffrey Needell “No Rio ‘civilizado’ triunfou a antiga predisposição colonial para assimilação de aspectos, tecnologias e valores europeus, e as contradições e pressupostos implícitos na belle époque carioca se concretizaram”. A escritora francesa Jane Catulle Mendes se refere à cidade em seu livro de poemas La Ville Merveilleuse (A Cidade Maravilhosa) publicado em Paris em 1913 como uma homenagem às suas belezas naturais, referência que seria usada em marcha composta por André Filho e arranjada por Silva Sobreira para o Carnaval de 1935.
[1] NEEDELL, Jeffrey. Belle
Epoque Tropical:sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do
século, São Paulo:Cia das Letras, 1993, p.55
[2] MARANHÃO, Ricardo.
Cinelândia: retorno ao fascínio do passado, Rio de Janeiro:LetraCapital, 2003,
p.34
[3] NEEDELL, Jeffrey. Belle
Epoque Tropical:sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do
século, São Paulo:Cia das Letras, 1993, p.61
[4] NEEDELL, Jeffrey. Belle
Epoque Tropical:sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do
século, São Paulo:Cia das Letras, 1993, p.67
[5] EDMUNDO, Luiz. O Rio do
meu tempo, Rio de Janeiro:Conquista, 1957, v.I, p. 40
[6] Nosso Século 1900-1910,
São Paulo:Abril Cultural, p.41
[7] NEEDELL, Jeffrey. Belle
Epoque Tropical:sociedade e cultura de elite no Rio de Janeiro na virada do
século, São Paulo:Cia das Letras, 1993, p.236
[8] MARANHÃO, Ricardo.
Cinelândia: retorno ao fascínio do passado, Rio de Janeiro:LetraCapital, 2003,
p.40
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