Muitos relatos dos jesuítas são permeados de
superstições. Robert Southey descreve que “é
difícil as vezes nas suas crônicas distinguir os efeitos da credulidade e
imaginação dos da falsidade deliberada: é que jamais lhes parecia reprovado o
engano que devia reproduzir um fim pio, ou causar uma boa impressão segundo
ideias deles”.[1] Frei Valentine Extancel célebre astrólogo da Companhia de Jesus atribui a
ocorrência de pestes no Brasil como previstos por eclipses.[2] Em 1686
a imagem de São Francisco Xavier (1506-1552) foi conduzida em procissão para
por termo à febre amarela que atingia a cidade.[3] O
aparecimento de cometas, como o que cruzou o Brasil em 1666, era considerado um
mau presságio para as colheitas. O cometo foi descoberto em 15 de agosto no
Pará por padres jesuítas. Este cometa está descrito nos versos do poeta
Gregório de Matos que o teria observado na Bahia [4]: “Se é estéril, e fomes dá o cometa, Não fica
no Brasil viva criatura, Mas ensina do juízo a Escritura, Cometa não o dar,
senão trombeta. / Não creio que tais fomes nos prometa. Uma estrela barbada em
tanta altura, Prometerá talvez, e porventura Matar quatro saiões de
imperialeta. / Se viera o cometa por coroas, Como presume muita gente tonta,
Não lhe ficar clérigo, nem frade, Mas ele vem buscar certas pessoas: Os que
roubam o mundo com a vergonha, E os que à justiça falta, e à verdade”. Rocha
Pita atribuiu a peste da varíola a passagem de um “horroroso cometa”. Em 1685 registra um “tremendo eclipse da lua, que naquela província da Bahia se viu com
horror”.[5] O jesuíta Valentim Estancel atribui ao eclipse de 1685 do Sol e outro da lua
que “grandes males ameaçavam o Brasil”. [6] Em
Pernambuco o médico João Ferreira da Rosa no Tratado Único da Constituição Pestilencial de Pernambuco descreve
em 1685 uma infecção contagiosa, que teria sido desencadeada a partir de um
eclipses e da disposição dos planetas, o que teria sido a primeira descrição de
febre amarela no Brasil [7].O padre
Antonio Vieira dedicou um de seus sermões em 1695 ao cometa Jacob e se
intitula: “Voz de Deus ao mundo, a
Portugal e a Bahia. Juízo do cometa e visto em 27 de outubro de 1695 e continua
ate hoje [...] Dei ao cometa o segundo nome de Voz de Deus. Se acaso o não
entendes assim e és do número daqueles que chamam aos cometas causas naturais e não reconhecem neles outro mistério ou documento mais alto, eu te afirmo que essa
mesma incredulidade e dureza é já um defeito fatal do mesmo cometa e princípio
dos castigos que por ele e como ele pode ser nos venham anunciados. Digo, pois,
que a razão mais verossímel de faltarem as notícias dos cometas no decurso de
tantos séculos não foi por negligência ou desatenção dos históricos, senão
porque verdadeiramente em todas aquelas idades não houve cometas”. O padre
Antonio Vieira viria a morrer dois anos depois em 1697.[8]
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