sexta-feira, 12 de fevereiro de 2021

Arado no Brasil colonial

 

Viajantes reportavam que no Brasil tudo era feito “no olho”, não haviam instrumentos para medição da produção de cana, os equipamentos se reduziam a machados, enxadas e picaretas, sequer o arado se usava regularmente.[1] O padre Prudêncio do Amaral em 1781 em Górgicas do Brasil – Cantos sobre coisas rústicas do Brasil , um paralelo com a obra de Virgílio, trata de poema agrícolas descrevendo o plantio, a colheita e os principais cultivos de açúcar, mandioca, fumo e criação de gado, ao qual Wilson Martins denomina de verdadeiro manual do agricultor  se refere a que o trabalho agrícola era feito com a enxada porque “nunca nestas plagas vigorara do arado ao uso” [2]. John Mawe em 1804 recomenda o uso do arado em lugar da enxada [3]. Até o último quartel do século XIX era muito mais comum o uso da enxada, chamada de “pai Adão” do que do arado [4]. Na representação de José Bonifácio apresentada à Constituinte de 1823 e publicada em 1825 argumentava a necessidade de melhoramentos na agricultura e a introdução do arado e de outros instrumentos: “vê-se 20 escravos carregando vinte sacos de açúcar, quando estes poderiam ir em duas carretas puxadas por bois ou mulas”.[5] Na cultura de algodão do século XIX John Normano observa que o arado era completamente desconhecido, as doenças do algodoeiro não eram combatidas, não se adotava seleção de sementes e os descaroçadores para beneficias as longas fibras eram desconhecidos.[6] Em Pernambuco o arado, a capinadeira e a grade não eram usados embora os plantadores de cana da Lousiana e Cuba já o utilizassem na década 1840 Os agricultores pernambucanos alegavam que troncos de árvores e raízes dificultavam o uso do arado sendo mais comum o uso da enxada para cavar os sulcos nas encostas das colinas.[7] Na agricultura brasileira temos três gerações de enxadas, duas com tecnologia africana e uma com tecnologia inglesa. Inicialmente as enxadas vieram da região do Congo, depois foram aqui fabricadas por africanos a finalmente importadas da Europa.[8] Até a década de 1870 era excepcional o uso de maquinaria, especialmente no Vale do Paraíba e pequeno o uso do arado.[9] Iraci Salles destaca que no oeste paulista onde se encontrava as culturas mais modernas de café e facilitado pela topografia difundiu-se na década de 1870 o uso do arado e da máquina carpideira.[10]. Na exposição de 1866 no Rio de janeiro as formas inglesas Ransomes e Simms expuseram suas charruas. Os arados de henry Rodgers Sons & Co se difundiram nas regiões cafeeiras de São Paulo na mesma época.[11]

[1] SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia, São Paulo:Cia das Letras, 2015, p.77

[2]MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 280

[3] MAWE, John. Viagens ao interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 231

[4] PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, v.1 Colônia.Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 72

[5] COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia, São Paulo:Unesp, 1998, p. 396

[6] NORMANO, John Francis. Evolução econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1939, p.69

[7] EISENBERG, Peter. Modernização sem mudança: a indústria açucareira em Pernambuco 1840-1910. São Paulo: Unicamp, 1977, p.60

[8] JUNIOR, Henriue Cunha. Tecnologia e fazer artístico no tempo do escravismo. In: ARAUJO, Emanuel. Arte, adorno, design e tecnologia no tempo da escravidão. Secretaria da Cultura de São Paulo, 2013, p.47

[9] COSTA, Emília Viotti da. Da senzala à colônia, São Paulo:Unesp, 1998, p. 230

[10] SALLES, Iraci. Trabalho, progresso e a sociedade civilizada, São Paulo:Hucitec, 1981, p.35

[11] GRAHAM, Richard. Grã Bretanha e o início da modernização no Brasil 1850-1914, Rio De Janeiro: Brasiliense, 1973, p. 92



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