sábado, 13 de fevereiro de 2021

O mito bandeirante

 

A tese do espírito aventureiro do brasileiro personificada na exploração dos bandeirantes pelo interior do Brasil foi em grande parte construída pelos historiadores paulistas que popularizou este mito, em especial ligados ao Instituto Histórico e Geográfico de São Paulo com intuito de construir uma história que exaltasse as virtudes do paulista. Segundo James Love: “se é certo dizer que os historiadores lançaram as bases do mito da garra quase que fantasiosa dos bandeirantes por aventuras e oportunidades, os criadores de mitos acompanharam os historiadores pari passsu, associando a total grandeza de São Paulo a seu antigo passado”.[1] Em 1952, o historiador português Jaime Cortesão foi nomeado para dirigir a organização da “Exposição Histórica de São Paulo dentro do quadro histórico do Brasil”, no âmbito das comemorações do IV Centenário da fundação da cidade de São Paulo (1954-1955) em que legitima o mito bandeirante.[2] Em “Capítulos de História do Império”, Sérgio Buarque de Holanda destaca que os modos selvagens dos bandeirantes, que costumavam andar descalços pelas matas em busca de índios e riquezas, causava estranheza entre os portugueses. Em Minas Gerais o uso do termo indígena “emboaba” em referência aos pés descalços do natural da vila de São Paulo de Piratininga, quando dirigido ao português que andava normalmente calçado era considerado um insulto gravíssimo.[3] Contratado pelo governador de Pernambuco para liquidar com o quilombo de Palmares, Domingos Jorge Velho (na figura). Ao recebê-lo em 1694 o bispo de Olinda, dom Francisco de Lima, ficou horrorizado “era o maior selvagem com quem já havia topado”.[4]



[1] SCHWARCZ, Lilia Moritz. O espetáculo das raças: cientistas, instituições e questão racial no Brasil 1870-1930, São Paulo: Cia das Letras, 1993, p.174

[2] ALVES, Daniel Vecchio. Reconsiderações Historiográficas sobre a Teoria do Sigilo de Jaime Cortesão. Revista Expedições, Morrinhos/GO, v. 9, n. 3, mai./ago. 2018

[3] SCHWARTZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia, São Paulo: Cia das Letras, 2015, p. 112

[4] MONTEIRO, John Manuel. Negros da Terra – Índios e Bandeirantes nas Origens de São Paulo,  Cia. das Letras, 1994



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