segunda-feira, 8 de fevereiro de 2021

O mestre de açucar

 

Segundo Antonil a casa das fornalhas era bastante insalubre e lembrava o “fumo perpétuo e via imagem dos vulcões Vesúvio e Etna e quase do Purgatório ou do Inferno” [1] e muitas vezes reservados aos escravos portadores de doenças sexuais pois acreditava-se nas propriedades terapêuticas do calor excessivo.[2] Caio Prado Júnior observa que nas colônias inglesas, francesas e holandesas os processos de utilização do bagaço da cana como combustível em substituição à lenha já eram bastante conhecidos.[3] Segundo Manuel Diegues: “o mestre de açúcar é o técnico que supervisiona toda a atividade do preparo do açúcar no engenho. Outros técnicos em especializações particulares, ajudam o mestre do açúcar em funções específicas: o caldeireiro que baldeia o caldo para as tochas e vai também limpando, com a espanadeira a espuma fervente nas caldeiras, ajudando o caldo; o tacheiro que se incumbe de acompanhar o desenvolvimento do caldo nas tachas e o purgador que é o químico no preparo da cristalização do açúcar nas formas”.[4] Mary del Priore mostra o mestre do açúcar era um negro livre encarregado de manipular a caldeira mantendo a temperatura adequada, sendo um trabalhador valorizado na economia colonial e que recebia um salário por safra. Em Campos em 1790 recebia um mínimo de 600 e 800 reis por dia.[5]

[1]GOMES, Laurentino. Escravidão, v.I, São Paulo: Globo, 2019. p.332; MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 240

[2]CAMPOS, Raymundo. Grandezas do Brasil no tempo de Antonil, São Paulo:Atual Editora, 1996, p. 21

[3]JÚNIOR, Caio Prado. Formação do Brasil contemporâneo. São Paulo:Brasiliense, 1986, p.135

[4]DIEGUES, Manuel. População e açúcar no nordeste do Brasil, Comissão Nacional de Alimentação, 1954, p.147

[5]PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, v.1 Colônia.Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 76



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