segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

O ensino dos jesuítas

 

Paul Monroe destaca o caráter tradicionalista do ensino dos jesuítas: “A prática e o princípio da educação jesuíta estavam em oposição aos novos ideais do período do Renascimento. Seu método, perfeito à sua maneira, inibia toda a iniciativa e impedia o desenvolvimento de toda espontaneidade e de toda liberdade de opinião. Sua superioridade durou enquanto não houve nenhuma grande modificação no espírito e no conteúdo da educação. Mas quando o século XVIII surgiu com um decidido movimento fora do espírito teológico dominante e do conteúdo humanista formal da educação, as escolas jesuítas perderam muito do seu prestígio e superioridade”.[1] A biblioteca do Colégio do Maranhão no século XVII era citada pelo padre Antonio Vieira como “muito boa” tendo cerca de cinco mil livros. Serafim Leite estima em doze mil os livros dos jesuítas no Maranhão e Grão Pará na época de sua expulsão em 1759. A do Colégio da Bahia tinha cerca de quinze mil livros e a do Rio de Janeiro no morro do Castelo cerca de cinco mil livros, servindo não apenas aos estudantes mas ao público em geral constituindo-se na primeira biblioteca pública do Rio de Janeiro [2]. Os elementos remanescentes do antigo colégio do Morro do Castelo se encontram atualmente no Colégio Santo Inácio, no bairro de Botafogo. Charmot observa que nos colégios jesuítas, segundo a Ratio studiorum, se fala em “cultura integral” não no sentido de ensino as matéria e de toda a ciência mas em um ensino literário  e científico que não fosse puramente profano: “o ensino das ciências profanas era orientado pelo princípio de que o religioso as ministra não por elas mesmas, mas somente em vista de promover a maior glória de Deus”.[3] Segundo Amarilio Ferreira o ensino jesuítico não foi exclusivamente livresco “o complexo jesuítico difundia a cultura latina cristã, sua principal função, mas ao mesmo tempo ensinava ofícios e produzia mercadorias, imbricando trabalho intelectual com trabalho manual”. No entanto, Amarilio Ferreira destaca uma diferenciação em relação às corporações de ofícios europeias: “diferentemente do que ocorria nas corporações de ofício da Europa ocidental na mesma época, aqui, em decorrência do modo de produção escravista, em vez de aprendizes e jornaleiros, isto é, os que trabalhavam por jornada, a maior parte da mão de obra nas oficinas de artes mecânicas era escrava. Tal fato – o de não ser necessária a formação de uma mão de obra assalariada no Brasil colonial ­– explica a razão de a instrução dessas artes ter sido complementar à de humanidades, não merecendo, portanto, a mesma importância desta”.[4] O termo “jornal” significava uma cota de trabalho quanto uma medida de área.[5] Para Lemos Brito a expulsão dos jesuítas pelo Marques de Pombal em 1759 foi medida “absurda, iníqua e ficou na história pátria coo um tremendo golpe desferido contra a nossa evolução econômico e social. Pombal poderia ter fulminado os abusos, corrigido os erros, evitado as transgressões às leis. Não lhe cabia retirar do sistema de forças da expansão brasileira essa energia formidável”.[6] Charles Boxer na mesma argumentação: “Se os resultados da expulsão dos jesuítas ordenada por Pombal e das suas consequentes reformas educacionais  foram um pouco confusos no Portugal metropolitano, foram qualquer coisa de desastroso no império português, pelo menos durante várias décadas.  Não havia ninguém para substituir os jesuítas, especialmente no Brasil a não ser por alguns membros de outras ordens religiosas, a maioria  das quais estavam nesta altura num avançado estado  de decadência”.[7]

[1]MONROE, Paul. História da educação. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1974, p.187

[2]MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 340

[3]MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 356

[4]FERREIRA, Amarilio; BITTAR, Marisa. Artes liberais e ofícios mecânicos nos colégios jesuíticos do Brasil colonial, Revista Brasileira de Educação, v.17, n.51, setembro 2012 http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S1413-24782012000300012&script=sci_arttext

[5]SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 417 nota 25

[6]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil. Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.194

[7]BOXER, Charles. O império colonial português, Lisboa: Edições 70, 1969, p. 344



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