Paul Monroe destaca o caráter tradicionalista do
ensino dos jesuítas: “A prática e o princípio
da educação jesuíta estavam em oposição aos novos ideais do período do
Renascimento. Seu método, perfeito à sua maneira, inibia toda a iniciativa e
impedia o desenvolvimento de toda espontaneidade e de toda liberdade de
opinião. Sua superioridade durou enquanto não houve nenhuma grande modificação
no espírito e no conteúdo da educação. Mas quando o século XVIII surgiu com um
decidido movimento fora do espírito teológico dominante e do conteúdo humanista
formal da educação, as escolas jesuítas perderam muito do seu prestígio e
superioridade”.[1] A biblioteca do Colégio do Maranhão no século XVII era citada pelo padre
Antonio Vieira como “muito boa” tendo cerca de cinco mil livros. Serafim Leite
estima em doze mil os livros dos jesuítas no Maranhão e Grão Pará na época de
sua expulsão em 1759. A do Colégio da Bahia tinha cerca de quinze mil livros e
a do Rio de Janeiro no morro do Castelo cerca de cinco mil livros, servindo não
apenas aos estudantes mas ao público em geral constituindo-se na primeira
biblioteca pública do Rio de Janeiro [2]. Os
elementos remanescentes do antigo colégio do Morro do Castelo se encontram
atualmente no Colégio Santo Inácio, no bairro de Botafogo. Charmot observa que
nos colégios jesuítas, segundo a Ratio studiorum, se fala em “cultura
integral” não no sentido de ensino as matéria e de toda a ciência mas em um
ensino literário e científico que não
fosse puramente profano: “o ensino das ciências profanas era orientado pelo
princípio de que o religioso as ministra não por elas mesmas, mas somente em
vista de promover a maior glória de Deus”.[3] Segundo Amarilio
Ferreira o ensino jesuítico não foi exclusivamente livresco “o complexo jesuítico difundia a cultura
latina cristã, sua principal função, mas ao mesmo tempo ensinava ofícios e
produzia mercadorias, imbricando trabalho intelectual com trabalho manual”.
No entanto, Amarilio Ferreira destaca uma diferenciação em relação às
corporações de ofícios europeias: “diferentemente
do que ocorria nas corporações de ofício da Europa ocidental na mesma época,
aqui, em decorrência do modo de produção escravista, em vez de aprendizes e
jornaleiros, isto é, os que trabalhavam por jornada, a maior parte da mão de
obra nas oficinas de artes mecânicas era escrava. Tal fato – o de não ser
necessária a formação de uma mão de obra assalariada no Brasil colonial –
explica a razão de a instrução dessas artes ter sido complementar à de
humanidades, não merecendo, portanto, a mesma importância desta”.[4] O termo
“jornal” significava uma cota de
trabalho quanto uma medida de área.[5] Para
Lemos Brito a expulsão dos jesuítas pelo Marques de Pombal em 1759 foi medida “absurda,
iníqua e ficou na história pátria coo um tremendo golpe desferido contra a
nossa evolução econômico e social. Pombal poderia ter fulminado os abusos,
corrigido os erros, evitado as transgressões às leis. Não lhe cabia retirar do
sistema de forças da expansão brasileira essa energia formidável”.[6] Charles
Boxer na mesma argumentação: “Se os resultados da expulsão dos jesuítas
ordenada por Pombal e das suas consequentes reformas educacionais foram um pouco confusos no Portugal
metropolitano, foram qualquer coisa de desastroso no império português, pelo
menos durante várias décadas. Não havia
ninguém para substituir os jesuítas, especialmente no Brasil a não ser por
alguns membros de outras ordens religiosas, a maioria das quais estavam nesta altura num avançado
estado de decadência”.[7]
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