segunda-feira, 15 de fevereiro de 2021

Engenho de entrosas

 

Nos engenhos de açúcar somente a partir de 1610 há registro dos chamados “engenhos de palitos”, ou “engenho de entrosas” os quais utilizavam um novo sistema de moendas: três cilindros de metal verticais que ao mesmo tempo que requeriam um número menor de trabalhadores, aceleravam os trabalhos.[1] Segundo Ruy Gama tais engenhos foram trazidos por um clérigo espanhol Gonzales de Velosa no início do século XVII e adotada em engenhos da Bahia, Pernambuco e Itamaracá. A invenção consiste de três cilindros verticais cilindros entrosados cuja rotação permitia a alimentação por um lado e a realimentação pelo lado oposto garantindo assim uma dupla moagem na mesma máquina [2] e de modo contínuo.[3] O rolo do meio recebe o movimento de rotação do eixo da volandeira, movimentado por uma roda água, que fica na parte superior e os transmite através de entrosas aos outros dois rolos.[4] Ao passar duas vezes entre os tambores a cana expelia todo seu suco.[5] Vicente Salvador se refere também e o engenho de entrosas, ou engenho dos três paus, quando era governador Diogo de Menezes.[6] Para Antonil em Cultura e Opulência do Brasil, publicado em 1711 escreve: “quem chamou as oficinas em que se fabrica o açúcar, engenhos, acertou verdadeiramente no nome porque são uns dos principais partos e invenções do engenho humano”.[7] Os engenhos com moendas de entrosas (cilindros verticais) tinha como vantagens em relação ao modelo anterior da moenda de rolos horizontais, que Frei Vicente Salvador denomina “engenho de eixos”, por garantir melhor esmagamento de cana e exigir menos mão de obra. A moenda de eixos era construída em madeira e sofriam grande desgaste nos mancais dos cilindros além de não ser possível a alimentação pelos dois lados. Para repassar o bagaço o escravo tinha de retirar o bagaço e deslocar-se para o outro lado da máquina a fim de realimentá-la.[8]



[1] SCHWARCZ, Lilia; STARLING, Heloisa. Brasil: uma biografia, São Paulo:Cia das Letras, 2015, p.73; SCHWARTZ, Stuart. Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia das Letras, 1988, p. 117

[2]SIMONSEN, Roberto. História Econômica do Brasil, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1962, p.100; CALMON, Pedro. História da civilização brasileira, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1933, p.19

[3] GAMA, Ruy. Engenho e tecnologia, São Paulo: Duas Cidades, 1983, p.63, 125

[4] VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. II, p. 130; CALMON, Pedro. História da Civilização Brasileira. São Paulo:Cia Editora Nacional, 1937, p.28

[5] PRIORE, Mary del. Histórias da gente brasileira, Vol. 1 Colônia. Rio de Janeiro:Leya, 2016, p. 72

[6] LIMA, Heitor Ferreira, Formação Industrial do Brasil, período colonial, Rio de Janeiro: ED. Fundo de Cultura, 1961, p. 108

[7] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 325

[8] GAMA, Ruy. Engenho e tecnologia, São Paulo:Duas Cidades, 1979, p.123



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