Em suas viagens ao Brasil Sant Hilaire
remeteria para Europa em 1822 coleção de 16 mil insetos, 2 mil aves, 129
mamíferos e herbário de mais de 30 mil números além de inúmeras amostras de
minerais [1]. No
século XIX Étienne Saint Hilaire foi enviado pelo Musée d’Histoire Naturelle de
Paris para examinar as coleções mantidas no Museu de História Natural em Lisboa
onde encontrou várias espécies encaixotadas da coleção de Alexandre Rodrigues
Ferreira o “Humbolt brasileiro”. Alexandre Ferreira, nascido em Salvador e
doutorando na Universidade de Coimbra foi enviado em 1783 pelo catedrático de
História Natural, Domingos Vandelli, para estudo das riquezas naturais do norte
do Brasil. Alexandre Ferreira chegou ao Brasil em Belém realizando extensa
pesquisa pelos rios amazônicos por quatro anos escrevendo extensas memórias de
caráter científicos para prestar contas às autoridades de Lisboa. Durante este
período enviou para Lisboa vários espécimes etnográficos, zoológicos, botânicos
e mineralógicos. No entanto o próprio Alexandre Ferreira ao retornar para
Portugal como encarregado de administrar o Real Gabinete de História Natural
pode observar o descaso com que seu material havia sido recebido: “os
exemplares que coligira à custa de tantas fadigas e remetera com o maior
desvelo para o gabinete da Ajuda, deteriorados na maior parte, e confundidos
todos, perdidos ou trocados os números e etiquetas que trazia”. Aproveitando-se da invasão do general Junot
em Portugal, do que restava Saint Hilaire auxiliado pelo seu preparador Pierre
Delalande [2] levou os melhores espécimes para Paris entre jacarés, papagaios e herbário amazônico.[3] Todo
o material coletado por Alexandre Rodrigues Ferreira acabou sendo aproveitado
pelo sábio francês como se suas fossem tais pesquisas. Saint Hilairie contudo
nega que tenha se apropriado do trabalho de outros com relação aos herbários
que encontrou no Museu d'Ajuda: "Todos são virgens; não se deram ao
trabalho de abri-los: não resultaram em nenhuma planta, em nenhuma ideia botânica."
Segundo Lorelai Kury “Classificados e estudados na França, esses herbários,
inúteis em Portugal, poderiam ser úteis aos próprios naturalistas portugueses,
que passariam a ter uma propriedade científica, quando anteriormente possuíam
apenas ervas".[4] Segundo
ele próprio informaria mais tarde, ao deixar Lisboa, em 15 de agosto de 1808,
foram levados 68 mamíferos, 443 aves, 62 répteis, 162 peixes, 490 moluscos, 12
crustáceos e 722 insetos os quais apresentaria à comunidade científica como fruto
de suas descobertas. Seus manuscritos e desenhos, com raras exceções, permaneceram
inéditos até a década de 1970, embora o Brasil tenha tomado posse deles desde
1842.[5] Comandada
pelo naturalista Alexandre Rodrigues Ferreira, a "Viagem Filosófica de 1785 foi
a mais importante expedição científica portuguesa do século XVIII. Ela
percorreu o interior da América portuguesa durante nove anos e produziu um rico
acervo, composto de diários, mapas populacionais e agrícolas, cerca de 900
pranchas e memórias (zoológicas, botânicas e antropológicas). Os diários, a
correspondência e umas poucas memórias somente foram publicados a partir da
segunda metade do século XIX, sobretudo na Revista do Instituto Histórico e
Geográfio. Na década de 1870, os três primeiros volumes dos Anais da Biblioteca
Nacional do Rio de Janeiro divulgaram uma enorme lista de manuscritos oriundos
da viagem. No entanto, somente na década de 1970, o Conselho Federal de Cultura
editou uma parte representativa das pranchas e memórias. Deve-se destacar,
porém, que ainda há documentação da maior importância que continua inédita em
arquivos portugueses e brasileiros. Na Fundação Biblioteca Nacional e no
Arquivo Histórico do Museu Bocage estão depositados os principais registros
textuais e visuais da expedição.[6]
[1]HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil
monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967,
p.451
[2]HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil
monárquico: reações e transações, t.II, v.3, São Paulo:Difusão Europeia, 1967,
p.444
[3]WILCKEN, Patrick. Império à deriva: a
Corte portuguesa no Rio de Janeiro 1808-1821, Rio de Janeiro:Objetiva, 2010,
p.306
[4]KURY, Lorelai. Homens de ciência no Brasil: impérios coloniais e circulação de
informações (1780-1810). História, Ciências, Saúde - Manguinhos, Rio de
Janeiro, v. 11, supl. 1, p. 109-129, 2004 https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-59702004000400006&lng=en&nrm=iso&tlng=pt
[5]HOLANDA, Sérgio Buarque. História
Geral da Civilização Brasileira: A época colonial, administração, economia,
sociedade, tomo I, volume 2, São Paulo:Difusão Editorial, 1982, p.172
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