Spix e Martius relata que no Rio de Janeiro “entre os naturais, são os mulatos que
manifestam maior capacidade e diligência para as artes mecânicas”. Grandes
artesãos como Aleijadinho [1] cuja
biografia foi publicada por Rodrigo José Ferreira Bretas em 1858 [2], mestre
Valentim [3] e
Francisco das Chagas [4], o
Cabra, eram negros [5].
Henry Koster relata que “a maioria dos
melhores artesãos é também de sangue mestiço” [6].
Wilson Martins destaca a convivência entre mulatos com artistas estrangeiros ou
descendentes de europeus o que levou a uma influência na arte. Por exemplo o
filho de italiano João Francisco Muzzi influenciou o trabalho de Manuel da
Cunha escravo do cônego Januário da Cunha Barbosa, que o levou a estudar
pintura em Lisboa. Manuel da Cunha foi o autor do teto da capela do senhor dos
Passos. Da mesma forma Aleijadinho aprendeu de mestres como o próprio pai
Manuel Francisco Lisboa e do medalhista e desenhista João Gomes Batista, o que
desfaz o mito de que teria sido um autodidata tal como destacado por Saint
Hilaire, o que explicaria certas rudezas e deformações de sua obra. O
historiador da arte Germain Bazin curador-chefe da Seção de Pinturas do Museu
do Louvre (1950-1965) atribui em Aleijadinho e a Escultura Barroca
atribui tais diferenças de qualidade a obras mal feitas por seus assistentes. Bazin
coloca Aleijadinho no mesmo patamar dos grandes criadores da cultura ocidental:
“um dos grandes artistas de nossa civilização”. Segundo Myriam A.
Ribeiro de Oliveira os livros de Germain Bazin sobre o barroco brasileiro
permitiram difundir internacionalmente as produções artísticas coloniais do
país, expressão que “desde então passou a fazer parte das publicações
especializadas dedicadas à arte barroca em todo o mundo, dando projeção
universal ao Aleijadinho”.[7] Lourival
Gomes Machado mostra a influência da obra de Alelijadinho com as gravuras de
Lorenzo Ghiberti. Os profetas teriam sido inspirados na igreja portuguesa de Monte
Espinho em Braga, onde também há o Santuário propriamente dito é precedido de
um monumental escadório decorado com fontes alegóricas ladeadas por
representações bíblicas de reis e profetas do Antigo Testamento, sendo a mesma
temática que o arquiteto português André Soares modelara para aquela igreja.[8] Cabe
ressaltar a diferença na matéria prima empregada, ou seja, a pedra-sabão nas
Minas Gerais e o granito em Braga, bem como a maior expressividade amaneirada de
Antonio Francisco Lisboa.[9] O
escritor Mário de Andrade em seu texto Aleijadinho (1928) destaca a genialidade
do artista mulato “que contém algumas das constâncias mais íntimas, mais
arraigadas e mais étnicas da psicologia nacional”.
A riqueza do barroco mineiro e das igrejas é uma mostra do crescimento da riqueza interna que circulava na colônia. [10] Lucio Costa, contudo, observa o conceito de decadência e menosprezo com que tem sido associado o barroco: “a ideia de coisa decadente, de aberração, andou tanto tempo associada a noção de arte barroca, que ainda hoje, muita gente só admira tais obras por condescendência, quase por favor. Se algumas vezes os monumentos barrocos merecem realmente essa pecha de anomalias artísticas, a grande maioria deles, inclusive daqueles em que o arrojo de concepção ou o delírio ornamental atingem o clímax, é constituída por autênticas obras de arte, que não resultaram de nenhum processo de degenerescência, mas, pelo contrário, de um legítimo processo de renovação”.[11] Para Wilson Martins: “historicamente o barroco é uma sobrevivência da idade média; mais tarde é uma tentativa de substituição da mitologia ou da “atitude mitológica” em arte pela “atitude católica [...] è certo, como quer Lafuente Ferrari, que o Barroco, enquanto arte da Contra Reforma, é sobretudo expressivo de emoções e vivências religiosas”. [12]
[1] http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa8614/aleijadinho
[2] LAGO, Pedro Correa.
Brasiliana IHGB 175 anos, Rio de Janeiro:Capivara, 2014, p. 317
[3] http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa215791/mestre-valentim
[4] http://enciclopedia.itaucultural.org.br/pessoa282537/francisco-das-chagas
[5] CARISE, Iracy. A arte
negra na cultura brasileira, Rio de Janeiro:Artenova, 1980, p.68
[6] LIMA, Heitor Ferreira.
História Político econômica e industrial do Brasil, São Paulo:Cia Editora
Nacional, 1970, p. 109; JÚNIOR, Manuel Diegues. População e açúcar no Nordeste
do Brasil, São Paulo:CNA, 1954, p.85
[7]URIBARREN, Maria Sabina. Germain Bazin e o IPHAN: redes de relações e projetos
editoriais sobre o Barroco brasileiro, Rev. CPC, v.13, n.25 especial,
p.108–134, jan./set. 2018 https://core.ac.uk/download/pdf/268311787.pdf
[8] MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São
Paulo:USP, 1976, p. 559
[9] SILVA, Eder Donizete; NOGUEIRA, Adriana Dantas. Traços Identitários: O
Santuário de Bom Jesus de Matosinhos de Congonhas do Campo e o Santuário do Bom
Jesus do Monte em Braga Braz. J. of Develop., Curitiba, v. 6, n. 9, p.
67508-67524, sep. 2020
[10] CALDEIRA, Jorge.
História do Brasil, São Paulo:Cia das Letras, 1997, p.96
[11] CARVALHO, Benjamin de
Araújo. A história da arquitetura, Rio de Janeiro:Edições de Ouro, p.225
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