Jacques Le Goff mostra que na Idade Média alguns ofícios eram percebidos pela sociedade como ilícitos açougueiros, cirurgiões e os barbeiros pelo horror ao sangue vertido; pisoeiros, tintureiros e cozinheiros pelo tabu da impureza ou da imundície [1]; hostilidade aos mercadores pelo tabu do dinheiro contra a invasão de uma economia monetária. Jacques le Goff observa que o tabu da impureza incidia sobre pisoeiros e tintureiros, mesmo motivo que Tomás de Aquino incrimina os lavadores de louça. [2] Hostilidades estas que se operam no âmbito das mentalidades. Em 1215, o IV Concílio de Latrão impôs a todos os clérigos a proibição de trabalharem como cirurgiões, resultado preconceito que vigorou durante toda a Idade Média em relação aos trabalhos manuais. Segundo Carlos Miranda: “O ato manual comprometeria a reputação intelectual do médico, que dispensava a eficácia da técnica. Até porque, para bem cumprir a sua função social, bastavam-lhe a eloquência e a escolástica. Portanto, a dicotomia entre a ação manual e a prática médica configurava um sério obstáculo ao real conhecimento da anatomia e da medicina”.[3]
[1] GOFF, Jacques. Trabalho. In: LE GOFF, Jacques; SCHMITT, Jean Claude. Dicionário analítico do
Ocidente medieval. v.II, São Paulo:Unesp, 2017, p. 635
[2] LE GOFF, Jacques. A bolsa e a vida, São Paulo: Brasiliense, 1989, p. 47
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