O
missionário metodista norte americano Kidder (Brazil and the
brazilians, London, 1857, na foto) ao visitar Salvador em 1840 denominou como
singular o fato de importante cidade ainda se utilizar do transporte de
palanquins e transporte da elite aos ombros de escravos. Nem mesmo o uso de
tração animal era utilizada, quando nas cidades mais importantes europeias já
se encontrava em uso os chamados “cavalos de ferro” com tração por
máquina a vapor [1] Kidder observa que a elite se ocupava de profissões liberais: “qualquer
coisa assim do gênero de um grande mecânico ou comerciante, creio que nunca se
viu” [2].
O cônsul geral da Inglaterra no Rio de Janeiro Henry Chamberlain em 1823 se
refere a presença da escravidão no cotidiano da cidade: “acostumados a não fazer nada, a ver só os negros trabalharem, os
brasileiros em geral estão convencidos de que os escravos são necessários como
animais de carga, sem os quais os brancos não poderiam viver”.[3] Quando da independência do Brasil José Bonifácio contratou o almirante inglês
Thomas Cochrane para comandar a marinha brasileira valendo-se de sua
experiência nas batalhas de independência do Chile e do Peru. Ao visitar os
navios recém construídos o Almirante inglês logo pode observar que os
marinheiros, portugueses ou brasileiros eram tão “fidalgos” que não limavam
seus próprios beliches, usando criados para tal serviço, numa demonstração do
preconceito contra o trabalho por parte dos homens livres.[4] James Fletcher que esteve no Brasil por várias vezes entre 1851 e 1869 admirava
não somente os atributos geográficos e as riquezas naturais do país mas a
tecnologia ao elogiar o sistema de placas que direcionavam o trânsito nas ruas
estreitas do Rio de Janeiro assim como a iluminação pública acesa todas as
noites enquanto que nos Estados Unidos muitas cidades desligavam a as luzes das
ruas nas noites de lua cheia.[5] O mineralogista inglês John Mawe que
esteve em Minas Gerais em 1809 depois de observar o funcionamento de monjolos
de engenhos de açúcar, impressionado por sua eficiência denominou-os de sloth
(preguiça) uma vez que o aparelho sendo impelido pela roda d’água, dispensava o
trabalho humano, estimulando a ociosidade[6]. Quando em visita a uma
fazenda em Mariana John Mawe demonstrou como fabricar manteiga pode observar “o pessoal da fazenda parecia muito
satisfeito com o bom êxito da operação, mas tenho fortes dúvidas de que a
adotassem depois de minha partida, porque são inimigos do trabalho e dos
cuidados que ela exige”.[7] Em visita a uma outra fazenda no Rio Pardo pode observar que a senhora da casa
interessou-se pela experiência, ela mesmo executando os trabalhos “raro exemplo de atividade e boa vontade!”.
John Mawe irá encontrar nas mulheres a exceção à regra geral de um povo
contrário à inovação: “fiquei firmemente
convencido de que, se as brasileiras recebessem educação melhor, sobretudo no
que se refere à economia doméstica, e estivessem habilitadas a ver tudo quanto
diz respeito ao lar administrado com ordem e regularidade, se tornariam úteis à
sociedade. Na verdade, constantemente observei nelas essa louvável curiosidade
e esse desejo de instrução, que se pode chamar o primeiro passo para o
aperfeiçoamento”.[8]
[1]FREYRE, Gilberto. Sobrados e Mucambos.
São Paulo: Ed. Record, 1998, p. 495.
[2] RODRIGUES, José Honório. As aspirações nacionais. São Paulo: Fulgor, 1963, p. 48
[3] GOMES, Laurentino.
1822, Rio de Janeiro:Globo Livros, 2015, p.250
[4] FIORE, Elizabeth.
Presença britânica no Brasil (1808-1914). São Paulo:Pau Brasil, 1987, p. 66
[5] CECILIA, Ana; MARTINS,
Impellizieri; SOHACZEWSKI, Monique. As descobertas do Brasil, Rio de Janeiro:
Casa da Palavra, 2014, p.110
[6] MAWE, John. Viagens ao interior do
Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 104; RODRIGUES.op. cit. p. 125.
[7] MAWE, John. Viagens ao
interior do Brasil. São Paulo: USP, 1978, p. 135
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