Segundo Maria de Fátima Hanaque Campos: “para os artistas cuja aprendizagem decorreu dos ofícios mecânicos, de tradição medieval, a noção de originalidade não era totalmente compreendida [...] O trabalho coletivo, próprio do período barroco, de tradição medieval, omitia a maioria dos autores das obras de arte. Desta forma, nem sempre é possível identificar o autor. Deve-se perceber que, dentro do contexto histórico dos séculos XVIII e XIX, a nenhum personagem social era permitida a notoriedade individual, diante da figura do rei. Sendo assim, artistas deveriam manter-se no anonimato, ou ao menos manter discrição de sua vida artística”.[1] Na construção do Passeio Público e do chafariz das Marrecas, inspirado em modelo de Lisboa, por exemplo, o nome do mestre Valentim não figurava na placa inaugural de 1785.[2] O altar mor da Igreja de Nossa Senhora do Carmo da Lapa do desterro no Rio de Janeiro foi esculpido pelo mestre Valentim em 1775. A igreja foi construída pelo engenheiro brigadeiro José Fernandes Pinto de Alpoim assim como a reconstrução do aqueduto da Carioca, atualmente conhecido como Arcos da Lapa, obra iniciada em 1738 no governo de Gomes Freire e concluída em 1750 quando na ocasião governava interinamente José da Silva Paes uma vez que o governador estava em viagem. Aproveitando-se da oportunidade José da Silva Paes ordenou que colocasse seu nome na placa de inauguração. Ao retornar de viagem Gomes Freire mandou trocar a placa e designou José da Silva Paes para o governo da capitania de Santa Catarina, bem longe do Rio de Janeiro.[3] Na tela de Debret em primeiro plano vê-se o Chafariz de Mestre Valentim junto ao cais. Mestre Valentim era um artesão mulato e artesão da Irmandade de Nossa Senhora do Rosário também conhecida como Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos.[4]
[1] ORAZEM, Roberta
Bacellar. A representação de Santa Teresa D’Avila nas igrejas da Ordem Terceira
do Carmo de Cachoeira/Bahia e São Cristóvão/Sergipe, Mestrado em Artes Visuais,
Salvador, 2009
http://www.repositorio.ufba.br:8080/ri/bitstream/ri/9853/1/robertaorazempt1.pdf
[2] MOTOYAMA, Shozo.
Prelúdio para uma história: ciência e tecnologia no Brasil, São
Paulo:Edusp2004, p. 105; MENDES, Chico; VERÍSSIMO, Chico; BITTAR, William.
Arquitetura no brasil de Cabral a Dom João VI, Rio de Janeiro;Imperial Novo
Milênio, 2009, p. 105
[3] SEARA, Berenice. O Globo. Guia de roteiros do Rio Antigo, Rio de Janeiro:
Sindicato Nacional dos Editores de Livros, 2004, p.42
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