Carlos Filgueiras observa que como Bartolomeu de
Gusmão executou os testes com o balão de ar quente em 1709 no mesmo ano de sua
chegada em Lisboa é possível que suas pesquisas tenham se iniciado junto ao
colégio dos jesuítas na Bahia.[1] Quando
Bartolomeu de Gusmão em 19 de abril de 1709 teve concedido pelo rei português
uma patente para sua invenção “sobre o instrumento que inventou para andar
pelo ar e suas utilidades” [2], relativa
ao balão de ar quente, pelo qual previa sua possível utilização como meio de
transporte, não se limitou a solicitar o privilégio, mas que fossem conferidas
garantias positivas para poder enfrentar possíveis infratores de seu invento,
contra os quais sugeria “graves penas” inclusive o “perdimento de
todos os seus bens”.[3] Em 6 de
maio de 1709 começou em Alcântara montagem do dito instrumento para
apresentação à Corte portuguesa tendo como convidados o cardeal Michelangelo
Conti futuro papa Inocêncio XIII. Segundo um testemunho anônimo: “ao padre Bartolomeu Lourenço que fazendo no
Paço a primeira experiência do seu engenho e voar, trouxe para isso um globo de
papel, o qual metendo-se-lhe dentro uma vela acesa, por si mesmo havia de
elevar-se aos ares, e pondo-lhe a dita vela pegou fogo e ardeu inteiramente”.
Em outra experiência o cardeal relata que o artefato subiu a quatro metros e
depois incendiou-se. A apresentação não causou grande entusiasmo. Para Henrique
Lins a partir das descrições podemos concluir que o artefato seria muito
próximo aos pequenos balões de São João que conhecemos. A falta de normativa específica
em Portugal sobre o tema levou Bartolomeu de Gusmão a se defender de possíveis
contrafatores omitindo detalhes importantes de sua invenção. Por conta desta
descrição incompleta, há registros históricos que relatam o padre tendo voado
em um de seus balões, o que se sabe que não ocorreu, assim como a divulgação de
estampas de formatos de balões que não condiziam com a realidade. Varnhagen
relata uma dessas histórias que descreve o invento dotado de asas, cabos e
roldanas e tendo propulsão magnética: “Lembrando-nos
de que muitas propriedades da eletricidade e do magnetismo já eram então
conhecidas, nenhuma dúvida temos em aventurar que as forças com que contava o
inventor deviam ser eletromagnéticas”.[4] O
próprio Gusmão divulgou a estampa “Passarola”, conforme original guardado na
Torre do Tombo em Portugal datado de 1709,[5] à
semelhança de lendas mitológicas, sem mostrar sua verdadeira contribuição: o
uso de uma fonte de ar quente para elevar o artefato.
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