quarta-feira, 10 de fevereiro de 2021

Bartolomeu de Gusmão, pioneiro inventor

 

Carlos Filgueiras observa que como Bartolomeu de Gusmão executou os testes com o balão de ar quente em 1709 no mesmo ano de sua chegada em Lisboa é possível que suas pesquisas tenham se iniciado junto ao colégio dos jesuítas na Bahia.[1] Quando Bartolomeu de Gusmão em 19 de abril de 1709 teve concedido pelo rei português uma patente para sua invenção “sobre o instrumento que inventou para andar pelo ar e suas utilidades” [2], relativa ao balão de ar quente, pelo qual previa sua possível utilização como meio de transporte, não se limitou a solicitar o privilégio, mas que fossem conferidas garantias positivas para poder enfrentar possíveis infratores de seu invento, contra os quais sugeria “graves penas” inclusive o “perdimento de todos os seus bens”.[3] Em 6 de maio de 1709 começou em Alcântara montagem do dito instrumento para apresentação à Corte portuguesa tendo como convidados o cardeal Michelangelo Conti futuro papa Inocêncio XIII. Segundo um testemunho anônimo: “ao padre Bartolomeu Lourenço que fazendo no Paço a primeira experiência do seu engenho e voar, trouxe para isso um globo de papel, o qual metendo-se-lhe dentro uma vela acesa, por si mesmo havia de elevar-se aos ares, e pondo-lhe a dita vela pegou fogo e ardeu inteiramente”. Em outra experiência o cardeal relata que o artefato subiu a quatro metros e depois incendiou-se. A apresentação não causou grande entusiasmo. Para Henrique Lins a partir das descrições podemos concluir que o artefato seria muito próximo aos pequenos balões de São João que conhecemos. A falta de normativa específica em Portugal sobre o tema levou Bartolomeu de Gusmão a se defender de possíveis contrafatores omitindo detalhes importantes de sua invenção. Por conta desta descrição incompleta, há registros históricos que relatam o padre tendo voado em um de seus balões, o que se sabe que não ocorreu, assim como a divulgação de estampas de formatos de balões que não condiziam com a realidade. Varnhagen relata uma dessas histórias que descreve o invento dotado de asas, cabos e roldanas e tendo propulsão magnética: “Lembrando-nos de que muitas propriedades da eletricidade e do magnetismo já eram então conhecidas, nenhuma dúvida temos em aventurar que as forças com que contava o inventor deviam ser eletromagnéticas”.[4] O próprio Gusmão divulgou a estampa “Passarola”, conforme original guardado na Torre do Tombo em Portugal datado de 1709,[5] à semelhança de lendas mitológicas, sem mostrar sua verdadeira contribuição: o uso de uma fonte de ar quente para elevar o artefato.

[1]FILGUEIRAS, Carlos. Origens da química no Brasil, Campinas:Ed. Unicamp., 2015, p.54

[2]MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 269

[3]Torre do Tombo. — Chanc. de D. João 5o. — Reg. de Off. e mercês, Liv. 31, foi. 202 v. — Pode ver-se a integra deste alvará na Rev. Do Inst., Tom. 12, pag. 345.cf. VARNHAGEN, Francisco. História geral do Brazil, v.2, Rio de Janeiro : Laemmert, 1877, p. 844; MARTINS, Wilson. História da inteligência brasileira, v.I (1550-1794), São Paulo:USP, 1976, p. 270

[4]VARNHAGEN, Francisco. História geral do Brazil, v.2, Rio de Janeiro : Laemmert, 1877, p. 842; VARNHAGEN, Francisco Adolfo. História geral do Brasil, São Paulo:Melhoramentos, 1948, v. III, p. 330

[5]CARVALHO, Nuno Pires. 200 anos do sistema brasileiro de patentes, Rio de Janeiro:Lumen, 2009, p. 14






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