Na Grécia antiga Homero se refere ao tear vertical.[1] O tear vertical era um instrumento utilizado essencialmente por mulheres em locais conhecidos na Roma antiga como gynaecea, sendo mencionados nas inquirições senhoriais do século IX e nas cabanas de escravos que produziam as chamadas “capas frisias” objeto de um acordo entre Carlos Magno e o rei da Mércia na Inglaterra. O vocabulário jurídico medieval discriminava os dois sexos quando diz: “o lado da espada” e “o lado da roca”. No gineceu onde se faz o trabalho de fiação as mulheres francesas cantam as chamadas “canções de tecedeira” ou “canções de gesta” que o poeta Pierre Le Gentil do século XI se refere como “canções de mulher”.[2] Daniele Bohler mostra que no gineceu se apresenta como o lugar “onde uma autoridade marital e parental se exerce sobre o mundo feminino” [3], enquanto em outros gineceus como grupamento feminino em um meio camponês mostra-se depositário de um saber secreto como elemento de coerência do grupo. O tear vertical do império romano seria substituído pelo tear horizontal de pedal, no qual se faziam peças de pano muito mais compridas embora mais estreitas chamados “panni” de quinze a trinta metros enquanto os velos “pallia” não excediam os três metros. As primeiras referências ao tear horizontal constam dos comentários do Talmud feitos por Rashi no século XI, um sábio judeu que vivia em Tróia [4]. Na época da invasão dos mouros no século X na Espanha o país se destacara com o avanço da ciência e de novas indústrias especialmente na tecelagem da seda, onde somente em Córdoba existima cerca de 13 mil teares.[5] Os tecelões do século X já trabalhavam o linho e outros produtos têxteis nos moinhos de cardar e prensar. Uma prova que já em 796 os ingleses exportavam produtos de lã é uma carta do imperador Carlos Magno para Offa, rei da Mércia na Inglaterra, reclamando de variações no tamanho dos mantos e cobertores de lã que a cidade exportava para a França.[6] No XVII Jurgens desenvolveu a roca de fiação movida por pedais que recebeu o nome de roca saxônica elevando consideravelmente a produtividade ainda que o trabalho continuasse manual até as primeiras lançadeiras automáticas desenvolvidas por John Kay no século XVIII.[7]
[1] GIES,
Frances & Joseph. Cathedral, forge and waterwheel, New York: Harper
Collins, 1994, p. 19
[2] LE GOFF, Jacques. A
civilização do Ocidente Medieval. Rio de Janeiro:Vozes, 2016, p. 277; DUBY,
Georges. A vida privada nas casas aristocráticas da França feudal. In: ARIÉS,
Philippe; DUBY, Georges. História da vida privada: da Europa Feudal à
Renascença, v.2, São Paulo:Cia das Letras, 1990, p.90
[3] BOHLER, Danielle.
Exploração de uma literatura. In: ARIÉS, Philippe;
DUBY, Georges. História
da vida privada: da Europa Feudal à Renascença, v.2, São Paulo:Cia das Letras,
1990, p.330, 343, 347
[4] MOKYR, Joel. The lever of riches: technological creativity and economic
progress, New York:Oxford University Press, 1990, p.52
[5] SEDGWICK, W.; TYLER, H;
BIGELOW, R. História da ciência: desde a remota antiguidade até o alvorescer do
século XX, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1952, p.170
[6] LACEY, Robert;
DANZIGER, Danny. O ano 1000: a vida no final do primeiro milênio. Rio de
Janeiro:Campus, 1999, p.69; DUBY, Georges. Guerreiros e camponeses: os
primórdios do crescimento econômico europeu, sec VII - XII, Lisboa: Editorial
Estampa, p.119, 121; HODGETT, Gerald. História social e econômica da Idade
Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p.65, 170
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