Entre os inventos brasileiros expostos em 1873 em Viena encontra-se o sistema de construir navios do engenheiro naval catarinense Trajano de Carvalho do Arsenal e apresentado pelo o Capitão-Tenente Luís Felipe de Saldanha da Gama. O sistema foi desenvolvido da Marinha no Rio de Janeiro [1] então denominado Arsenal de Marinha da Corte e patenteado em 1870 na Inglaterra [2]. Trajano de Carvalho era formado em engenharia naval na Inglaterra. A inovação da Carena Trajano, como foi chamado o invento na época, basicamente modificava o formato do casco na proa (frente) dos navios que resultava em menor resistência ao avanço do navio e assim ganhos de menor consumo de combustível. A carena é a parte do casco dos navios que fica imersa na água. Ele trocou as balizas abertas em "V", como era usual, pelo formato em "U", com os costados praticamente verticais. Dessa forma, as linhas d'água ganharam o formato de cunha, que diminuía a resistência ao avanço do navio. Foi também um dos primeiros trabalhos de pesquisa tecnológica, em qualquer ramo da engenharia, realizado no Brasil, e certamente o primeiro que teve repercussão no exterior, com patente na Europa [3]. A carena Trajano foi o primeiro navio construído após a Guerra do Paraguai, no Arsenal de Marinha da Corte, usando o novo formato de casco. O novo sistema foi construído em diversas outras embarcações do Arsenal de Marinha como as corvetas Parnahyba, Guanabara, Galeota Imperial e os navios mercantes Rio de Janeiro e Rio Grande. Na Inglaterra após testes junto ao Almirantado britânico mostrando uma economia de potência da ordem de 30% foram construídas quatro canhoneiras do tipo Tee e Medina com o novo sistema [4]. O sistema foi tema de artigo do engenheiro Nathan Barnaby na revista inglesa Engineering de agosto de 1870. Pedro Telles comenta: "O engenheiro Vicente Sacchetti chama a atenção para o interessante fato de que as modernas proas dos navios gigantes da atualidade repetem quase exatamente, acreditamos que sem o saber, as linhas da carena Trajano, inventada por um brasileiro de 1869 !".[5] Testada e aprovada na Inglaterra a nova forma de cascos proporcionava economia de 30% de combustível.[6]
[1]TELLES, Pedro Carlos da
Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX, Rio de
Janeiro:Clube de Engenharia, 1994, p.309
[2]SANTOS, Sydney. André
Rebouças e seu tempo, Rio de Janeiro, 1985, p.79
[3]TELLES, Pedro Carlos da
Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX, Rio de
Janeiro:Clube de Engenharia, 1994, p.325, 326
[4]CASTRO, Pierre Paulo da Cunha. Disciplina na Armada Imperial a partir da
corveta Trajano, Mestrado, Rio de Janeiro: UNIRIO, 2013
[5]História da Construção
Naval no Brasil, Pedro Carlos da Silva Telles, Ed. Femar, 2001, página 56, 62 e
251. Os inventos da Marinha de Guerra Brasileira, Rogério Augusto Siqueira,
Imprensa Nacional, 1923
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