Peter Burke mostra que o Renascimento foi acompanhado pelo interesse na “filosofia do oculto” ou magia que se evidencia pelo interesse no assunto pelo polonês Copernico, o alemão Cornelius Agrippa, o astrólogo inglês John Dee, confidente da rainha Elizabeth I [1] e o italiano Giordano Bruno entre outros [2]. Para Alender Koyré: “nada parece mais distante de nossa ciência que a visão de mundo de Nicolau Copernico. Sem ele, no entanto, nossa ciência não existiria”.[3] Para Fernanda Cury a originalidade do estudo de Copernico estava no uso da matemática para construção de seu modelo de modo a simplificar o cálculo das órbitas planetárias.[4] Klaas Wortmanm argumenta que a modernidade tratou de apagar os registros esotéricos de todo aquele que pudesse estar conectado como precursor da revolução científica do século XVII “A história linear da marcha para a modernidade também "higienizou" Copérnico e Bruno, ocultando suas motivações místicas e terminou por se tornar dominante não só porque o hermetismo foi minado no século XVII, mas por efeito do próprio humanismo renascentista, com Erasmo, por exemplo”.[5] John Dee acreditava que pela matemática se poderia alcançar as verdades eternas em concordância com as teses de Pico della Mirandola: “pelos números se encontra um meio para buscar e compreender todas as coisas possíveis de serem conhecidas”.[6] John Dee colocou os livros de sua biblioteca, cerca de quatro mil livros [7], a disposição dos amigos artífices [8] e foi a principal influência para o movimento rosacruz [9] relacionando a matemática aplicada a melhoramentos técnicos [10] com a cabala, alquimia e astrologia em Monas hieroglyphica.[11] Frances Yates mostra que John Dee difundiu suas teses na corte de Frederico V da Boêmia, o Eleitor Palatino junto com outros hermetistas ingleses [12]. Formou-se uma cultura no Palatinado que tinha ligações diretas com as doutrinas de Philip Sidney, John Dee e Giordano Bruno [13], até que em 1620 a corte de Heidelberg foi extinta pela reação católica culminando na Guerra dos Trinta Anos. A condenação de Galileu em 1633 na Itália é outro elemento a restringir as possibilidades de hermetismo.[14]
[1]WEST, John Anthony. Em
defesa da astrologia, São Paulo:Siciliano, 1992, p. 100
[2]BURKE, Peter. O
renascimento, Lisboa:Textos&Grafia, 1997, p.102
[3]CURY, Fernanda. Copérnico
e a revolução da astronomia, São Paulo:Odysseus, 2003, p. 28, 114
[4]CURY, Fernanda.
Copérnico e a revolução da astronomia, São Paulo:Odysseus, 2003, p. 99
[5]WORTMANN, Klaas.
Ciência e religião no Renascimento, Brasília:UNB, 1996 http://dan.unb.br/images/doc/Serie200empdf.pdf
[6]YATES, Frances.
Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 172; BURKE,
Peter. O polímata, São Paulo: Cia das Letras, 2020, p. 64
[7]BURKE, Peter. O polímata, São Paulo: Cia das Letras, 2020, p. 68
[8]HOOYKAAS, R. A religião
e o desenvolvimento da ciência moderna, Brasília:UNB, 1988, p.119
[9]FANNING, Philip. Isaac
Newton e a transmutação da alquimia, Santa Catarina:Danúbio, 2016, p. 77
[10]YATES, Frances. O
iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.229
[11]YATES, Frances. O
iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.8
[12]YATES, Frances. O
iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.77
[13]YATES, Frances. O
iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.127, 219
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