terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Sacrobosco e os navegadores portugueses

 

A obra de Sacrobosco Tractatus de Sphaera Mundi foi publicada em Ferrara em 1472 e teve mais de 70 edições tornando-se um livro texto de grande difusão até o século XVII: [1] “que a terra também é redonda aparece assim. Os signos e as estrelas não surgem e se põem igualmente para todos os homens que estão em todos os lugares, mas primeiramente surgem e se põem para aqueles que estão para o oriente e surgem e se põem mais tarde para os outros [...] Além disso se a terra fosse plana do oriente para o ocidente, as estrelas surgiriam tão cedo para os orientais quanto para os ocidentais, o que é falso”.  Para Sacrobosco tanto na região equinociais próxima ao equador (“zona tórrida” devido a quentura do sol) como dos pólos por serem regiões muito frias, a terra esférica seria desabitada. O Regimento de Munich e o Tratado da Spera do Regimento de Évora de 1517 reproduziam os mesmos conceitos de Sacrobosco. Pedro Nunes na sua tradução da obra de Sacrobosco em 1537 comenta: “As navegações dos portugueses nos mostraram que não há terra tão destemperada, por quente nem por fria, em que não haja homens”. Duarte Pacheco em seu Esmeraldo de 1506 comenta este argumento da inabitabilidade dos pólos e das regiões equatoriais: “tudo isso é falso, certamente temos muita e muita razão de nos espantar de tão excelentes homens, como esses fora, e assim Plínio e outros autores, que isto mesmo afirmaram, caíram em tamanho erro como neste caso disseram, porque eles mesmo confessam a Índia ser verdadeiramente oriental  e povoada de gente sem número, e que como é com o oriente, também seja com o círculo equinocial, que passa pela guiné e pela Índia e com a maior parte dela tenha vizinhança, claramente ser falso o que escreveram, pois debaixo da mesma equinocial há tanta habitação de gente quanto temos sabida e praticada, e como quer que a experiência  é mãe das coisas, por ela soubemos radicalmente a verdade”. [2]



[1] MOURÃO, Ronaldo Freitas. Dicionário Enciclopédico de astronomia e astronáutica, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1987, p. 698

[2] VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1921, capítulo 2 A arte de navegar dos portugueses, p. 63



Nenhum comentário:

Postar um comentário

Doação de Constantino

  Marc Bloch observa a ocorrência de falsificações piedosas tais como a pseudo doação de Constantino ( Constitutum Donatio Constantini ) ao ...