quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

Junta de matemáticos de D. João II ?

 

Barros mostra que quando Colombo apresentou seus planos ao rei de Portugal d. João II em 1483 neste o encaminhou ao bispo Diogo Ortiz e aos mestres Rodrigo e José “a quem ele cometia essas coisas de cosmografia e seus descobrimentos”. Pero da Covilha contou ao padre Francisco Alvares que em sua viagem de 1487 lhe apresentaram uma carta de marear elaborada na casa de Pero de Alcaçova, Diogo Ortiz de Villeva nascido em Castela e graduado pela Universidade de Salamanca, o mestre Rodrigo das Pedras Negras e Mestre Moysés (o seu nome judeu) também conhecido como José Vizinho cristão-novo natural da Covilhã, formado em Medicina em Salamanca. Admite-se que José Vizinho tenha inspirado os mais antigos regimentos náuticos portugueses conhecidos: o regimento de Munique e o regimento de Évora. A partir destas referências Stockler em 1819 conclui que havia uma Junta de Matemáticos entendida não como uma reunião ocasional de especialistas em cosmografia e navegação, mas uma verdadeira Academia a auxiliar a Coroa portuguesa nesses assuntos. Entre estes especialistas havia também o cosmógrafo alemão Martin Behaim (Martinho da Boémia) construtor do famoso globo de Nuremberg que mostrava o Atlântico entre a Espanha e a China sem a representação da América e que foi completado em 1492 após as viagens de Colombo. Martin Behain era discípulo de Regiomontanus, e era presumível agente do Imperador Maximiliano I, primo e amigo de João II, que terá acompanhado a viagem de Diogo Cão (1485-86). Outro célebre cosmógrafo do grupo era o judeu espanhol Abrãao Zacuto / Zagut, professor da Universidade de Salamanca, autor do Almanach perpetuum celestium motuum impresso em Veneza em 1472, traduzido para o português por José Vizinho (na figura a versão publicada em Leiria 1496) e usado por Colombo e Fernando de Magalhães em suas viagens.[1] Abrãao Zacuto se refugiou em Portugal após a expulsão dos judeus de Castela, em 1492. No entanto os principais cronistas da época como o próprio Barros, Castanheda ou Rui de Pina em nenhum meomento faz referência a existência de uma Junta de Matemáticos. Martinez de la Puente no seu Compendio de las histprias de la India Oriental de 1681 também faz referência a esta suposta Junta de Matemáticos reunida pelo rei português. Luciano Pereira da Silva conclui que tal Junta nunca existiu [2], o que havia era um grupo seleto e restrito de especialistas com quem o rei contava para assuntos relacionados a cosmografia, cartografia e navegação, dentro os quais se destacam Duarte Pacheco Pereira que ele encaminhou para viagem na Guiné e depois à conferência de Tordesilhas em 1494 e que seria o autor do Esmeraldo de situ orbis.[3]



[1]MOURÃO, Rogério. Dicionário de astronomia e aeronáutica, Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1986, p.877

[2]VASCONCELLOS, Ernesto; GAMEIRO, Alfredo; MALHEIROS, Carlos. In: História da Colonização Portuguesa no Brasil, Edição Monumental Comemorativa do Centenário de Independência do Brasil, Porto, Litografia Nacional, 1921, capítulo 2. A arte de navegar dos portugueses, p. 66

[3]https://www2.senado.leg.br/bdsf/item/id/242845



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