terça-feira, 26 de janeiro de 2021

Feudalismo em Portugal ?

 

Roberto Simonsen em História Econômica do Brasil publicado em 1937 criticou a tese de que o regime de capitanias hereditárias no Brasil pudesse ser entendido como um regime feudal, uma vez que este processo somente pode ser entendido como um elemento da expansão do sistema capitalista europeu [1]: “sob o ponto de vista econômico, que não deixa de ser básico em qualquer empreendimento colonial, não me parece razoável a assemelhação desse sistema ao feudalismo” enquanto que no sistema feudal não se busca o lucro, no sistema de donatarias a busca por fortuna pelos donatário é evidente, mesmo Portugal já não vivia sob regime feudal, seu objetivo na conquista de novas terras é enriquecer e fortalecer o Estado português. A Espanha foi conquistada pelos muçulmanos um século antes de Carlos Magno formar o feudalismo europeu, o que levou a inserção tardia de Portugal e Espanha ao movimento europeu. Em Portugal a reconquista do sul do Algarve em 1249 foi muito mais rápida do que o caso espanhol e levou a um reforço do poder real como os casa de Bragança  [2]. Lemos Brito destaca que se no feudalismo a exploração do colono agrícola em regime de servidão era severa, em Portugal isso seria ainda mais rigoroso por conta do domínio árabe e com isso levou a uma inércia e hostilidade do português à agricultura em tal período medieval. Fortunato de Almeida em História de Portugal escreve “a população portuguesa não era diligente nos trabalhos agrícolas”. Nicolau Clenardo destaca: “Se a agricultura alguma vez foi desprezada é de certo nos lugares que habito [Portugal]. O que em outra parte se reputa o nervo principal das nações, aqui olha-se como insignificante ou inútil”.[3] Para João Tierno: “No período inicial de nossa existência como nação, vimo-nos forçados a uma luta de mais de dois séculos para mantermos uma autonomia artificial, dificilmente explicável, e mal podíamos olhar para os interesses da agricultura. Consolidada a independência, apertados como estávamos entre o mar e um país forte e despeitado, estendidos ao comprido sobre uma estreita faixa de território quase todo árido e improdutivo, fomos fatalmente impelidos para esse oceano lendário e misterioso”. Este pouco interesse na agricultura foi transplanto ao Brasil pelo colono português. Robert Southey aponta que no Brasil holandês do século XVII “três classes de homens, se dizia, faziam falta no Brasil: capitalistas, que especulassem em engenhos de açúcar; artesãos e operários que depois de terem juntado algum pecúlio se entregassem à agricultura, fixando-se no solo adotivo como no natal o teriam feito” [4].

[1]Os portugueses na América: feitorias e capitanias hereditárias (Aula 3, parte 3) https://www.youtube.com/watch?v=OwWTHuerec8

[2]ANDERSON, Perry. Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento, 1982, p. 191

[3]BRITO, José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica, Brasisilana v.155, São Paulo: Cia Editora Nacional, 1980, p.5

[4]SOUTHEY, Robert. História do Brasil, Brasília: Melhoramentos, 1977, v.1, p. 412



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