Roberto Simonsen em História Econômica do Brasil
publicado em 1937 criticou a tese de que o regime de capitanias hereditárias no
Brasil pudesse ser entendido como um regime feudal, uma vez que este processo
somente pode ser entendido como um elemento da expansão do sistema capitalista
europeu [1]: “sob o ponto de vista econômico, que não
deixa de ser básico em qualquer empreendimento colonial, não me parece razoável
a assemelhação desse sistema ao feudalismo” enquanto que no sistema feudal
não se busca o lucro, no sistema de donatarias a busca por fortuna pelos
donatário é evidente, mesmo Portugal já não vivia sob regime feudal, seu
objetivo na conquista de novas terras é enriquecer e fortalecer o Estado
português. A Espanha foi conquistada pelos muçulmanos um século antes de Carlos
Magno formar o feudalismo europeu, o que levou a inserção tardia de Portugal e
Espanha ao movimento europeu. Em Portugal a reconquista do sul do Algarve em
1249 foi muito mais rápida do que o caso espanhol e levou a um reforço do poder
real como os casa de Bragança [2]. Lemos
Brito destaca que se no feudalismo a exploração do colono agrícola em regime de
servidão era severa, em Portugal isso seria ainda mais rigoroso por conta do
domínio árabe e com isso levou a uma inércia e hostilidade do português à
agricultura em tal período medieval. Fortunato de Almeida em História de
Portugal escreve “a população portuguesa não era diligente nos trabalhos
agrícolas”. Nicolau Clenardo destaca: “Se a agricultura alguma vez foi
desprezada é de certo nos lugares que habito [Portugal]. O que em outra parte
se reputa o nervo principal das nações, aqui olha-se como insignificante ou
inútil”.[3] Para João Tierno: “No período inicial de nossa existência como nação,
vimo-nos forçados a uma luta de mais de dois séculos para mantermos uma
autonomia artificial, dificilmente explicável, e mal podíamos olhar para os
interesses da agricultura. Consolidada a independência, apertados como
estávamos entre o mar e um país forte e despeitado, estendidos ao comprido
sobre uma estreita faixa de território quase todo árido e improdutivo, fomos
fatalmente impelidos para esse oceano lendário e misterioso”. Este pouco
interesse na agricultura foi transplanto ao Brasil pelo colono português. Robert Southey aponta que no Brasil holandês do
século XVII “três classes de homens, se
dizia, faziam falta no Brasil: capitalistas, que especulassem em engenhos de
açúcar; artesãos e operários que depois de terem juntado algum pecúlio se
entregassem à agricultura, fixando-se no solo adotivo como no natal o teriam
feito” [4].
[1]Os portugueses na
América: feitorias e capitanias hereditárias (Aula 3, parte 3)
https://www.youtube.com/watch?v=OwWTHuerec8
[2]ANDERSON, Perry.
Passagens da antiguidade ao feudalismo, Porto: Afrontamento, 1982, p. 191
[3]BRITO, José Gabriel
Lemos. Pontos de partida para a história econômica, Brasisilana v.155, São
Paulo: Cia Editora Nacional, 1980, p.5
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