segunda-feira, 25 de janeiro de 2021

Leonardo da Vinci e os engenheiros artistas toscanos

 

Leonardo da Vinci teve acesso a leitura dos grandes físicos da Universidade de Paris como Albert de Saxe, Timon o judeu e Jean Buridan [1]. Peter Burke, contudo, mostra que talvez Leonardo da Vinci nunca tenha frequentado e escola e conseguia ler latim com dificuldade, embora fosse dono de uma biblioteca com mais de cem volumes em 1504.[2] Seus conhecimentos foram em grande parte aprendidos na oficina de seu mestre Verrochio. Leonardo da Vinci pertencia a uma tradução toscana de artistas engenheiros como Brunelleschi, Taccola e Francesco di Giorgio. Em um de seus cadernos Leonardo da Vinci se descreve como um “homem sem instrução” “omo sanza lettere”.  Leonardo da Vinci questionava o valor da autoridade dos antigos: “Quem discute baseando-se na autoridade, não usa o engenho, mas a memória [...] A sabedoria é filha da experiência. Foge dos preconceitos dos especuladores, cujas razões a experiência não confirma”. Apesar desta argumentação Leonardo da Vinci manteve, por exemplo, as concepções errôneas de Galeno nos desenhos que fez do cérebro onde supostamente haveria uma “rede admirável” de vasos que converteria o espírito vital em espírito animal [3]. Diversas invenções atribuídas a Leonardo da Vinci já existiam nos escritos de engenheiros como Konrad Kyeser nascido em 1366, Robert Valturio nascido em 1413 e Francesco di Giorgio [4] nascido em 1439 aos quais Leonardo da Vinci teve acesso aos estudos armamento naval [5]. O conceito de paraquedas em forma piramidal  foi antecipado em um manuscrito anônimo italiano de 1470 que se encontra na Biblioteca britânica em Londres [6]. A obra de Valturio de Rimini foi um impulso importante para algumas das invenções de Leonardo da Vinci em engenharia militar.[7] Em seu ateliê Leonardo da Vinci seguindo modelo que aprendera com seu mestre Verrocchio predominava o trabalho em equipe sendo comum um mesmo quadro receber as contribuições de diferentes artistas [8]. Apesar de trabalhar em um ambiente colaborativo muitas das obras e estudos como os de anatomia não chegaram a ser publicados em vida o que demonstra que sua prioridade era acumular conhecimento, de modo a otimizar a qualidade e realismo de suas pinturas ou simplesmente para satisfazer sua curiosidade, mais do que propriamente ser reconhecido por tais descobertas ou contribuir de alguma forma para o progresso do conhecimento humano. Segundo Walter Isaacson: “é incontestável que sua paixão por acumular conhecimento não equivalia à paixão por compartilhá-lo”.[9]



[1]MOUSNIER, Roland. História Geral das Civilizações: os séculos XVI e XVII: os progressos da civilização europeia, tomo IV, v.1, São Paulo:Difusão Europeia, 1967, p.18

[2]BURKE, Peter. O polímata, São Paulo: Cia das Letras, 2020, p. 75

[3]ABRIL Cultural, Medicina e Saúde. História da Medicina, v.I, São Paulo, 1970, p. 76

[4]Merrill, E 2013 The Trattato as Textbook: Francesco di Giorgio’s Vision for the Renaissance Architect. Architectural Histories, 1(1): 20, pp. 1-19

[5]GIMPEL, Jean. A revolução industrial da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 1977, p.123; DELUMEAU, Jean. A civilização do Renascimento, Lisboa:Estampa, 1984, v.I, p.158

[6]BARBAGALLO, Sandro. Leonardo da Vinci experience, Rome: Arte e Cultura, 2018, p.7

[7]ISAACSON, Walter. Leonardo da Vinci. Rio de Janeiro:Intrínseca, 2017, p. 119, 123

[8]ISAACSON, Walter. Leonardo da Vinci. Rio de Janeiro:Intrínseca, 2017, p. 258

[9]ISAACSON, Walter. Leonardo da Vinci. Rio de Janeiro:Intrínseca, 2017, p. 453



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