Os
engenhos centrais que funcionavam pela força dos cursos d’água chegavam a
produzir 10 mil arrobas de cana, produção bem acima da média de 1,7 mil arrobas
dos engenhos tradicionais movidos a bois.[1] Frederic Mauro estima em 48 mil cruzados portugueses os custos de um engenho central,
soma considerável para a época o que exigia dos fazendeiros que buscassem
fontes de financiamento junto a banqueiros e comerciantes.[2] Em 6 de novembro de 1875 a lei n° 2687 regulamentou a adoção dos chamados
engenhos centrais de maior produtividade, prevendo um juros de 7% ao ano sobre
os capitais investidos, um juros atrativo de modo a estimular a sua adoção. As
companhias concessionárias, contudo, ficavam obrigadas a reservar 10% do
capital adquirido em um fundo reservado a empréstimos para os plantadores além
de que não poderia haver trabalho escravo [3].
Para os latifundiários não agradava a subordinação com o capital financeiro. O
amplo debate ocorrido no congresso Agrícola de Recife em 1878 destaca a
necessidade de novas medidas governamentais que incentivassem a instalação de
engenhos centrais. O Congresso destaca “excetuados
os melhoramentos em alguns engenhos, os processos de fabrico de açúcar são os
mesmos de duzentos anos atrás” [4].
O engenho central substitui o banguê, ou engenho primitivo caracterizado pela
moenda de três tambores. Este engenho primitivo, contudo, irá dominar por
séculos os engenhos coloniais. Segundo Gileno de Carli: “é uma paisagem quinhentista transplantada para o século da máquina” [5].
O primeiro engenho central foi inaugurado em 1877 em Quissamã no Rio de Janeiro (na foto),
por iniciativa do conde de Araruama [6],
com moderno equipamento de fabricação francesa Fives-Lille montado por André Patureau [7],
seguido da Usina Barcelos no mesmo Estado em 1882 [8].
Segundo André Rebouças: “é pois evidente
que o engenho central é um restaurador energético: é exatamente o elemento de
vida, o agente do progresso, de que necessita a lavoura de açúcar da província
da Bahia e de todas as províncias em condições análogas” [9].
Em São Paulo a usina Porto Feliz será inaugurada em 1877. Gileno de Carli
mostra que a legislação de 1875 estabelecia um amparo financeiro aos
fazendeiros que adotassem engenhos centrais e que a expectativa era de que isto
levaria a um período de “prosperidade e
riqueza”, no entanto, “elocubrações
de uma noite quente de verão criaram na imaginação fértil do informante desse
período imediatamente anterior à fundação dos engenhos centrais esse quadro tão
conformador de progresso e riqueza e de tranquilidade social. Dir-se-ia que os
plantadores de cana fluminenses iam entrar numa região de sonho, onde a
felicidade seria encontrada. O número fantástico de pedidos de garantia de
juros e as parcas realizações denotam que realmente a expectativa dos
produtores era otimista e que contavam, os inconformados, fazer uma fortuna
rápida e fácil com os engenhos centrais. Havia, naturalmente muito de fantasia,
quando chegou a República” [10].
Peter Eisenberg relata que a propaganda da época dizia que 17 engenhos centrais
egípcios produziam tanto açúcar quanto todos os 1500 engenhos pernambucanos em
1873, no entanto muitos dos contratos acabaram envolvidos em fraudes com a
importação de maquinaria obsoleta e enferrujada [11].
Segundo o Ministro da Agricultura: “a
falta de idoneidade de alguns concessionários esterilizou as concessões de que
se haviam premunido para especulações puramente mercantis, contudo
transferi-las as terceiros, que aptos a inspirar confiança e habilitados pelas
suas relações comerciais, conseguissem levantar os capitais necessários”. [12] Entre as razões apontadas para crise dos engenhos centrais no início da
República encontra-se a falta de pessoal técnico e o alto custo da matéria
prima: “exatamente quando se processava
na província do Rio de Janeiro a transformação do engenho colonial em usina,
chega a abolição da escravatura. O quadro que então se desenha é alarmante,
porque os engenhos param. O mato invade tudo. As lavouras se extinguem [..]
Perde-se quase tudo”. Em Minas Gerais somente o Engenho central Rio Branco
inaugurado em 1885 obteve sucesso. Cinco empresas britânicas organizadas a
partir de 1882 recebem concessões para 32 engenhos centrais em São Paulo, Rio
de Janeiro, Espírito Santo, Bahia, Alagoas, Sergipe, Pernambuco, Rio Grande do
Norte e Ceará. Tal otimismo não se confirmou, a Rio de Janeiro Central Sugar
Factories construiu apenas um engenho central localizado em Pernambuco com “miserável desempenho”[13],
a San Paulo Central Sugar Factory construiu um único engenho em 1884 e empresa
foi liquidada dois anos após.
[1]BARSA PLANETA, História
do Brasil: primeiros povos brasileiros, descobrimento e colonização, 2009, v.1,
p. 262
[2]AQUINO,
Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo:
Record, 2000, p.109
[3]GUIMARÃES, Alberto Passos. A crise agrária, Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1982,
p.63 In: AQUINO,
Fernando, Gilberto, Hiran. Sociedade brasileira: uma história, São Paulo:
Record, 2000, p.559
[4]HOLANDA, Sérgio
Buarque. O Brasil monárquico: declínio e queda do império, t.II, v.4, São
Paulo:Difusão, 1971, p.107
[5]IBGE, Tipos e aspectos
do Brasil, Rio de Janeiro:IBGE, 1975, p.154
[6]BRITO,
José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil.
Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.306
[7]TELLES, Pedro Carlos da
Silva. História da Engenharia no Brasil: séculos XVI a XIX, Rio de
Janeiro:Clube de Engenharia, 1994, p.186; HOLANDA, Sérgio Buarque. O Brasil
monárquico: declínio e queda do império, t.II, v.4, São Paulo:Difusão, 1971,
p.108
[8]GAMA, Ruy. Engenho e
tecnologia, São Paulo: Duas Cidades, 1983, p.231
[9]SANTOS, Sydney. André
Rebouças e seu tempo, Rio de Janeiro, 1985, p.289
[10]DI CARLI, Gileno. A
evolução do problema canavieiro fluminense. 1942, Rio de Janeiro:Pongetti,
p.43
http://www.ppe.ipea.gov.br/pub/meb000000270/evoluodoproblema00deca/evoluodoproblema00deca.pdf
[11]EISENBERG, Peter.
Modernização sem mudança: a indústria açucareira em Pernambuco 1840-1910. São
Paulo: Unicamp, 1977, p.116
[12]EISENBERG, Peter.
Modernização sem mudança: a indústria açucareira em Pernambuco 1840-1910. São
Paulo: Unicamp, 1977, p.114
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