segunda-feira, 18 de janeiro de 2021

Oráculos no Egito Antigo

 

Segundo Guilherme Oncken os sacerdotes dominavam a “linguagem dos deuses” estabelecendo uma separação completa entre o profano e o sagrado: “a consequência disto era o vulgo não saber o que significavam a ciência e a religião, que a tradição transmitira e cujas formas seguia com supersticiosa exatidão, ao passo que o sacerdócio se separava cada vez do povo e vivia num mundo quimérico, cujos fantásticos ideais não podiam nunca ser postos em prática”.[1] Byron Shafer mostra que o acesso às forças ocultas podia se dar por meio de sonhos alguns dos quais registrados em livros dos Sonhos como os de Hor de Sebannytos do século II a.c.[2] Hor de Sebannytos foi um profeta de grande prestigio por ter profetizado com sucesso ao imperador Ptolomeu VI a retirada dos selêucidas e seu imperador Antioco IV do Egito o que de fato veio a ocorrer apenas um mês após sua profecia. A interpretação dos sonhos era uma prática importante uma parte de heka, ou magia, como praticada no Egito. O templo de Amun, chamado Umm Ubayd, era o local do famoso oráculo no oásis de Siwa. Em 332 a.c. Alexandre o Grande foi saudado como faraó pelo oráculo quando visitou o oásis. O general de Esparta Lisandro, o poeta Píndaro e o geógrafo grego Strabo visitaram Siwa para assistir a cerimônias com os oráculos egípcios. A estátua do deus se movia em seu pedestal moveu ao responder as perguntas indicando uma resposta positiva ou negativa conforme o movimento. Em alguns centros de culto, as estátuas "falavam" aos fiéis, pois os sacerdotes podiam estar escondidos dentro do santuário e poderia fornecer uma resposta abafada, mas audível.[3] Nos festivais religiosos no Egito eram usados artifícios mecânicos de modo que as estátuas dos deuses pudessem fazer movimentos tais com virar os olhos ou movimentar as mãos e os pés.[4] Athanasius Kircher se refere a alguns destes engenhos mecânicos dos egípcios[5]. O Louvre guarda exemplo de uma estátua falante, uma cabeça de chacal cuja mandíbula inferior era móvel em que através de um barbante podia-se fechar sua boca.[6] No escrito hermético medieval Asclepius descreve-se os rituais egípcios de infundir as estátuas de seus deuses como poderes mágicos que as faziam falar.[7] Giulio Camillo em L’idea del Theatro se refere a depoimento de Mercúrio Trimegisto no Antigo Egito que relata sobre os fabricantes de estátuas que as tornavam animadas. Agripa em seu livro De oculta philosophia também se refere as estátuas egípcias falantes animadas pelos poderes celestes [8]. Heron observa que nos pórticos dos templos egípcios haviam rodas de bronze localizados para que o fiel os girasse de modo a permitir a aspersão de água nas roupas. Ao tocar o bronze o fiel acreditava ser purificado. Fílon de Alexandria se refere a mecanismo similar feito em cobre.[9] Algumas mulheres são descritas como “mulheres sábias” com relação aos conselhos emitidos numa espécie de vidência. John Baines se refere a um determinado caso em que uma dessas mulheres foi consultada sobre o que um oráculo iria dizer. John Baines mostra que o uso de intermediários para divindades e a deficação de indivíduos não- pertencentes a realeza certamente não se estendiam além da elite.[10]



[1]ONCKEN, Guilherme. História Universal. História do Antigo Egito, v.I, Rio de Janeiro:Bertrand, p.304

[2]SHAFER, Byron. As religiões no Antigo Egito, São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 210

[3]BUNSON, Margaret. Encyclopedia of Anvient Egypt, New York:Facts on File, 2002, p. 288

[4]JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 208

[5]YATES, Frances. Giordano Bruno e a tradição hermética, São Paulo:Cultrix, 1995, p. 461, 464

[6]MONTET, Pierre. O Egito no tempo de Ramsés: a vida cotidiana, Sâo Paulo:Cia das Letras, 1989, p.294

[7]YATES, Frances. A arte da memória. São Paulo:Unicamp, 2007, p.199

[8]YATES, Frances. A arte da memória. São Paulo:Unicamp, 2007, p.201, 360

[9]CAMP, L. Sprague de. The ancient engineers, New York: Ballantine Books, 1963, p. 122

[10]BAINES, John. Practical Religion and Piety, The Journal of Egyptian Archaeology, Vol. 73 (1987), pp. 79-98



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