sexta-feira, 22 de janeiro de 2021

O ouro de Lúlio

 

Menéndez Lelayo afirma que Raimundo Lúlio denominado “Doutor Iluminado” é equivocadamente tratado como praticante de alquimia medieval.[1] Lydia Mangold afirma que Raimundo Lulio como alquimista trabalhou na destilação do álcool que denominava de anima coelica, mercurius vegetabilis e conseguiu obter carbonato de amônia pela destilação da urnia, sendo pioneiro na preparação de tinturas e essências refinadas.[2] Frances Yates, contudo, mostra que a imensa literatura alquímica atribuída a Raimundo Lúlio foi escrita após sua morte.[3] Raimundo Lúlio (1232-1316) autor de Clavicula, Ars Magna [4] (que faz uso da lógica, retórica e matemática para desenvolver a ars combinatória, o uso de rodas para criar combinações de diferentes ideias, possivelmente com origem no conhecimento dos astrólogos árabes)[5] e Testamentum foi convidado pelo rei da Inglaterra Eduardo II para converter metais vis, como azougue (mercúrio [6]), chumbo e estanho em ouro sob a promesssa de que os recursos seriam investidos em uma cruzada contra os turcos. Conta-se que foram produzidos 22 toneladas de ouro em medalhas comemorativas, com o testemunho de João Cremer abade de Westminster [7], e que até os fins do século XVII circulavam pela Europa como “o ouro alquímico de Lull”.[8] O rei encarcerou Raimundo Lúlio na Torre de Londres para que não revelasse seu segredo, porém este conseguiu fugir para Messina.

[1]MENESES, José Newton. Os alambiques, a técnica da produção da cachaça e seu comércio na América portuguesa. In: BORGES, Maria Eliza. Inovações, coleções, museus. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2011, p.130

[2]MANGOLD, Lydia Mez. Imagens da história dos medicamentos, Basileia:Hoffman La Roche, 1971, p.69

[3]YATES, Frances. O iluminismo rosacruz, São Paulo:Pensamento, 1983, p.257

[4]COSTA, José Silveira da. A escolástica cristã medieval, Rio de Janeiro, 1999, p.101

[5]BURKE, Peter. O polímata, São Paulo: Cia das Letras, 2020, p. 54

[6]BARRETO, Elias. Enciclopédia das grandes invenções e descobertas. São Paulo:Cascino Editores, 1971, p.100

[7]CANTU, Cesare. História Universal, volume XIV, São Paulo:Editora das Américas, 1955, p. 314

[8]CHASSOT, Attico. A ciência através dos tempos, São Paulo:Moderna, 1994, p. 75



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