sábado, 2 de janeiro de 2021

O mito de Osíris

 

A morte e ressurreição de Osíris simbolizavam a retirada das águas do Nilo no outono e a volta da inundação na primavera.[1] O grão, símbolo do corpo de Osíris, parece não ter vida até que germine, de modo que revivificação do grão refaz a ressurreição de Osíris sob o poder de Ísis.[2] Na lenda tal como transmitida por Plutarco [3], Ìsis recolheu os catorze pedaços de Osíris, com exceção do falo, juntando-as cuidadosamente com bandagens de linho, vivificado pelo sopro de Anúbis, deus dos mortos, o que seria a primeira múmia do Egito [4]. Segundo a tradição Ísis teria encontrado e sepultado o corpo de Osíris em Abidos [5]. Com Osíris revivificado Ísis concebeu Hórus que ao se tornar adulto empreendeu uma luta eterna com Set. [6] Assim que as águas retrocediam os agricultores semeavam e lavravam a terra, período de quatro meses chamado perit. Então seguia-se o período de colheita, o chemu, pelos restantes quatro meses do ano. [7] A lenda de Osíris tornou-se conhecida a partir do texto por Plutarco no ano 100 d.c. A propos d’Isis et d’Osiris. [8] John West observa que os templos do Antigo Egito não narram o mito de Osíris presumivelmente por se algo de amplo conhecimento, tais narrativas se tornaram conhecidas pelos escritores gregos e romanos.[9] Byron Schafer observa que os textos do Egito Antigo não se referem à morte de Osíris, pois um acontecimento narrado em detalhes seria eternizado de modo que as narrativas somente surgem mais tarde na forma escrita já no período greco romano.[10] No mito egípcio, o Nilo era a projeção de Osíris e a terra o corpo de Ísis de modo que ao se misturar com o solo o Nilo-Osíris fecunda  terra-Ísis.[11] Para Joseph Campbell sobre o mito de Ísis que concede Hórus após a morte de Osíris: “esse é um tema que aparece nas antigas mitologias, inúmeras vezes, sob muitas formas simbólicas: da morte se origina a vida”.[12]



[1]BURNS, Edward McNall. História da civilização ocidental, Rio de Janeiro:Ed. Globo, 1959, p.52

[2]STROUHAL, Eugen. A vida no antigo Egito. Barcelona:Folio, 2007, p. 96

[3]LAMY, Lucien. Mistérios egípcios, Madri:Prado, 1996, p.5

[4]DEARY, Terry. Espantosos egípcios, São Paulo:Melhoramentos, 2004, p. 97; JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 204

[5]EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.31

[6]JOHNSON, Paul. História Ilustrada do Egito. Rio de Janeiro:Ediouro, 2002, p. 204

[7]MONTET, Pierre. O Egito no tempo de Ramsés: a vida cotidiana, Sâo Paulo:Cia das Letras, 1989, p.40

[8]VERCOUTTER, Jean. Em busca do Egito esquecido. Rio de Janeiro:Objetiva, 2002, p.17; EDWARDS, J. As pirâmides do Egito, Rio de Janeiro:Record, 1985, p.28; LEADBEATER, C. Pequena história da maçonaria, São Paulo: Pensamento, 1968.p.51

[9]WEST, John Anthony. The traveler’s key to ancient Egypt, New York:Quest, 2012, p. 382

[10]SHAFER, Byron. As religiões no Antigo Egito, São Paulo: Nova Alexandria, 2002, p. 143

[11]LAMY, Lucien. Mistérios egípcios, Madri:Prado, 1996, p.6

[12] CAMPBELL, Joseph. O poder do mito, São Paulo: Palas Athena, 1990, p. 188



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