domingo, 3 de janeiro de 2021

Homem de neandertal no metrô

 

Inicialmente a descoberta do homem de Neandertal em 1856 encontradas na caverna de Feldhofer no vale de Neander próximo a Dusseldorf [1] e no Devonshire foi recebida com ceticismo por grandes especialistas como Rudolf Virchow que acreditava tratar-se de um homem moderno acometido de alguma doença que deformava os ossos. Três anos depois Darwin publicaria a Origem das Espécies e Charles Lyell identificou algumas pedras lascadas como armas da era glacial.[2] Richard Leakey observa o homem de Neandertal não foi aceito inicialmente porque seus traços físicos e comportamento bruto não se ajustava aos padrões da humanidade do século XIX, ao contrário do Cro Magnon descoberto por Louis Lartet em Dordonha em 1868 durante a escavação de uma estrada [3] perto da vila de Les Eyzies na França, com corpo elegante, cabeça delicada, sem nenhum traço “bárbaro” que foi aceito na comunidade científica sem maiores resistências[4] e datado de cerca de 28 mil anos pertencente a cultura gravetiana. Não se trata do primeiro homo sapiens (nomenclatura criada por Lineu, que significa homem sábio [5]) na Europa já que os pioneiros datam de 43 mil anos. A imagem de um Neandertal desengonçado, estúpido e sem inteligência ilustrada por Frantisek Kupka no L’Illustration de 1909 baseado na descrição anatômica de Marcellin Boule em “O homem fóssil”[6] persistiu por décadas.  Em 1957 Wiliam Straus e Aje Cave numa matéria na Quarterly Review of Biology fizeram uma reconstituição com traços parecidos com os do homem moderno: “Se ele pudesse reencarnar e fosse levado ao metrô de Nova York, contanto que tivesse tomado um banho, fosse barbeado e vestido com roupas modernas, provavelmente não chamaria mais a atenção do que alguns de seus concidadãos”.[7] Em 1939, o antropólogo Carleton Coon usou uma reconstrução artística do espécime de Neandertal La Chapelle aux Saints usando um chapéu para argumentar que as impressões das pessoas sobre as diferenças entre grupos de humanos dependem em parte de características superficiais, como roupas e pelos faciais.



[1]LEAKEY, Richard. Origens, Brasília:UNB, 1980, p. 32; LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade, Brasília: UNB, 1981, p. 145; NEVES, Walter. Assim caminhou a humanidade, São Paulo:Palas Athena, 2015, p.192

[2]WRIGHT, Ronald. Uma breve história do progresso, São Paulo:Record, 2007, p.33

[3]CONDEMI, Silvana; SAVATIER, François. Neandertal, nosso irmão, São Paulo: Vestígio, 2018, p. 117

[4]LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade, Brasília: UNB, 1981, p. 147

[5]BYNUM, William. Uma breve história da ciência. Porto Alegre:L&PM Pocket, 2018, p. 143

[6]MILLER, Russel. A verdade por trás da história: as novas revelações que estão mudando nossa visão do passado. Rio de Janeiro:Reader’s Digest, 2006, p.25

[7]LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade, Brasília: UNB, 1981, p. 148; CONDEMI, Silvana; SAVATIER, François. Neandertal, nosso irmão, São Paulo: Vestígio, 2018, p. 44



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