domingo, 3 de janeiro de 2021

Deusa mãe

 

Alguns autores defendem a tese de que a representação de mulheres nuas nestas imagens seriam um indício da ausência de roupa no paleolítico, porém, a razão mais provável é que tais imagens não buscam a representação da mulher mas uma simbologia associada à fertilidade o que justificaria a nudez.[1] A não ser por uma cinta nas costas na Vênus encontrada em Kostienki e uma franja nas costas na que foi encontrada em Lespugue, todas estão despidas. Erwin Ackercknecht argumenta que algumas destas representações exuberantes, ironicamente chamadas de Vênus podem ser casos de alguma patologia.[2] Mauricio Righi aponta que tais aspectos podem reforçar uma simbologia do ponto de vista de uma guerreira tal como uma amazona.[3] Richard Leakey observa que poucas representações mostram traços em proporções exageradas, o que demonstra que a ideia de um culto continental à deusa mãe simbolizada em Vênus exuberantes mostra-se despropositadamente exagerada.[4] Walter Neves aponta o surgimento destas esculturas de Vênus como uma das características que marcam a “revolução criativa do paleolítico superior”.[5] No século XIX para Joahann Bachofen nos tempos primitivos os homens viviam em completa promiscuidade sexual, por ele denominado de heterismo [6], de modo que a filiação somente poderia ser estabelecida com segurança por linhagem feminina, o que conferia à mulher um papel central nestas sociedades. Bachofen se tornou um importante precursor das teorias do século XX sobre matriarcado, tal como a teoria da Antiga Cultura Européia postulada por Marija Gimbutas dos anos 1950. Para Gimbutas as descobertas de imagens femininas encontrados em diferentes sítios arqueológicos  da idade da Pedra  sugeriria uma civilização pan europeia centrada no matriarcado  entre 6500 e 3500 a.c. [7] Divindades como Cibele a Grande Mãe na Ásia Menor, a deusa hindu Kali, deméter a mãe das colheitas e mãe das águas Tiamat da Mesopotâmia demonstram o papel predominante da mulher  nos antigos mitos religiosos.[8]

[1]LENAR, Karel. La vie dans la préhistoire, Praga:Grund, 1991, p.60, 112; CLARK, Grahame. A pré história, Rio de Janeiro:Zahar, 1975, p. 65

[2]ACKERCKNECHT, Erwin. A short history of medicine, Baltimore:Johns Hopkins Press, 2016, p.3

[3]RIGHI, Mauricio. Pré História & História, São Paulo:É Realizações, 2017, p. 44

[4]LEAKEY, Richard. A evolução da humanidade, Brasília: UNB, 1981, p. 180

[5]NEVES, Walter. Assim caminhou a humanidade, São Paulo:Palas Athena, 2015, p.270

[6]ENGELS, Friedrich. A origem da família, da propriedade privada e do Estado, São Paulo:Lafonte, 2017, p. 15

[7]DONKIN, Richard. Sangue, suor e láqrimas. Sâo Paulo: Macron Books, 2003, p. 10

[8]MUMFORD, Lewis. A cidade na história, São Paulo:Martins Fontes, 1982, p. 34



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