O padre Serafim Leite em sua História da Companhia de Jesus dedica um volume as Artes e Ofícios
dos Jesuítas no Brasil no período 1549 a 1760. Os artesãos que sabiam consertar moendas e rodas d’ água dos engenhos
de açúcar eram muito procurados.[1] José Anchieta foi um fabricador
manual de alpercatas, o principal calçado utilizado pelos jesuítas no Brasil
colonial: “e sou já bom mestre e tenho
feito muitos para os irmãos, porque não se pode cá andar pelos matos com
sapatos de couro” [2]. Em
carta Manoel da Nóbrega informa: “Quase nenhuma das artes necessárias para o
comércio da vida deixam de fazer os irmãos: fazemos vestidos, sapatos,
principalmente alpercatas de um fio, como cânhamo, que nós outros tiramos duns
cardos lançados na água e curtidos, cujas alpercatas, pela aspereza das selvas
e das grandes enchentes de água, é necessário passar muitas vezes por grande espaço
até a cinta, e algumas vezes até o peito, barbear, curar feridas, sangrar, fazer casas e coisas de barro e outras
semelhantes coisas que se buscam fora, de sorte que a ociosidade não tem lugar
nesta casa”.[3] Entre os índios o uso de sandálias visava não apenas a proteção dos pés mas
também para despistar o inimigo, e seu hábito conforme observa Sérgio Buarque
de Holanda surge associado a entidades mitológicas como o curupira, de pés as
avessas, presente principalmente do
imaginário dos povos tupi [4].
[1]SCHWARTZ, Stuart.
Segredos internos: engenhos e escravos na sociedade colonial. São Paulo: Cia
das Letras, 1988, p. 37, 38
[2]BARDI, Pietro Maria.
Mestres, artífices, oficiais e aprendizes no Brasil, Banco Sudameris Brasil,
1981, p. 82; NASH, Roy. A conquista do Brasil. São Paulo:Cia Editora Nacional,
1939, p. 155
[3]BRITO,
José Gabriel Lemos. Pontos de partida para a história econômica do Brasil.
Brasiliana v. 155, São Paulo:Cia Editora Nacional, 1980, p.188
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