O termo Renascimento (Rinascita) foi empregado pela primeira vez por Vasari em meados do século XVI.[1] Para Edith Sichel o Renascimento “foi um movimento, uma revivificação das capacidades do homem, um novo despertar da consciência de si próprio e do universo [...] a reabilitação da alegria de viver [...] Renascimento é um termo vago que tem servido para revestir muitos fatos: o reflorescimento da erudição, a renovação da arte, a revolta contra os escolásticos, a expansão do pensamento dos homens e a expansão do mundo para além dos mares”.[2] Peter Burke considera como um mito a perspectiva de considerar o individualismo como o traço distintivo do Renascimento: “não devemos ver o Renascimento como uma revolução cultural no sentido de uma súbita quebra com a tradição. É mais exato pensar nesse movimento como um desenvolvimento gradual no qual cada vez mais indivíduos se tornaram progressivamente insatisfeitos com os elementos de sua cultura em finais do período medieval e cada vez mais atraídos pelo período clássico”.[3] Philippe Contamine por sua vez observa que na Renascença embora se perceba com mais intensidade o individualismo do l’homme de la Renaissance ainda assim é o habitat coletivo que permanece mais apreciado, seja na comunidade religiosa, escolar, de doentes ou soldados.[4] Chiara Frugoni observa que no período medieval embora tenhamos a figura do Juízo Final, muito raramente ele é representado pelo julgamento de uma pessoa sozinha, mas de modo geral o que se expressa é o julgamento coletivo.[5] Peter Burke também questiona a imagem do “homem renascentista”, dotado de um conhecimento “polivalente”, como por exemplo Leonardo da Vinci, Pico de Mirandolla, Francesco Petrarca, Leon Alberti. A imagem do homem renascentista como um polímata foi difundida principalmente após a publicação em 1860 do ensaio A cultura do Renascimento na Italia do suíço Jacob Burckhardt, conceito que Peter Burke aponta como mito de universalidade do conhecimento.[6] O autor descreve o Renascimento como um fenômeno italiano do qual as outras nações se aproximariam apenas para o copiar.[7]
[1]PERNOUD, Régine. Idade
Média: o que não nos ensinaram, Rio de Janeiro:Agir, 1994, p. 19
[2]SICHEL, Edith. O
Renascimento. Rio de Janeiro:Zahar, 1963, p.7, 8, 15
[3]BURKE, Peter. O
renascimento, Lisboa:Textos&Grafia, 1997, p.8, 44
[4]CONTAMINE, Philippe. Os
arranjos do espaço privado século XIV-XV. In: In: ARIÉS, Philippe; DUBY,
Georges. História da vida privada: da Europa Feudal à Renascença, v.2, São
Paulo:Cia das Letras, 1990, p.501
[5]FRUGONI, Chiara.
Invenções da Idade Média, Rio de Janeiro:Zahar, 2007, p. 107
[6]BURKE, Peter. O polímata, São Paulo: Cia das Letras, 2020, p. 56, 59
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